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quinta-feira, 26 de abril de 2012

REFUTAÇÃO DO CATOLICISMO ROMANO


I - MARIOLATRIA
Entre os inúmeros pontos que existem entre os católicos romanos e evangélicos, um se destaca. MARIA. Os católicos praticam a adoração a Maria, dando um maior destaque a mesma do que a Cristo. Já os evangélicos, a consideram como um exemplo de vida cristã e humildade. A mariolatria está sustentada no seguinte tripé:

1.1 Imaculada Conceição de Maria: este dogma afirma que Maria nasceu sem pecado, ou seja, ela não herdou a mancha do pecado original. Atribuem assim à Maria um atributo divino- a impecabilidade. Este dogma só foi  aceito oficialmente em 8 de dezembro de 1854, quando o Papa Pio IX proferiu o seguinte: 

“declaramos e definimos que a bem aventurada Virgem Maria desde o primeiro momento de sua concepção, foi reservada imaculada de toda mancha do pecado original, por graça singular e privilégio do Deus onipotente, em virtude dos méritos de Jesus Cristo, o salvador da humanidade, e que esta doutrina foi revelada por Deus e,  portanto, deve ser firmemente e constantemente crida por todos os fiei”.

Refutação:
1.    No seu cântico diz: “e o meu espírito se alegra em Deus meu salvador” (Lc. 1.47). Só um pecador necessita de um salvador. 

2.    Maria levou as duas ofertas que a lei mandava, a oferta queimada e a oferta do pecado (Lv. 2.22-24; e Lv. 12.6-8). Mas, se não tinha pecado, para que levar ofertas? 

3.    Nas Escrituras, em nenhum momento se afirma que Maria não cometeu pecado. Pelo contrário, “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” (Rm. 3.23). “Não há um justo nem um sequer.” (Rm. 3.10). Só Cristo é identificado como o único sem pecado. “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por ne, para que nele fossemos feitos justiça de Deus”. (II Co. 5.21).

1.2 Perpétua Virgindade de Maria: os católicos afirmam, que Maria em toda a sua vida nunca conheceu o seu esposo José. 

Refutação:
1.    A Bíblia não afirma (Mt. 1.24-25). O “...até...”, mostra que José conheceu Maria sexualmente depois do nascimento de Jesus.

2.    Jesus é chamado de primogênito, ou seja, é chamado de primeiro filho gerado de Maria, mostrando que ela gerou outros filhos. Deus chama Jesus de unigênito (Jo. 3.16), ou seja, o único filho gerado. 

3.    Em diversas passagens vemos que Jesus teve irmãos e irmãs (Mc.6.3; Mt. 13.54-56), Paulo chegou a afirmar que os irmãos do Senhor eram casados (I Co. 9.5). 

4.    O texto é muito claro em afirmar que Cristo possuiu irmãos “adelphos” uterinos (Mc 6.3, Mt 13.55-56, Lc 8.19; Jo 2.12, 7.3-5). O termo usado para primos é “anepsios” (Cl 4.10).

1.3 A Assunção de Maria: Assim como consideram que Maria foi concebida sem pecado, e ainda que viveu sem pecar, chegaram a mirabolante conclusão de que seu corpo na morte não experimentou a decomposição e nem permaneceu na sepultura. Jesus veio para leva-la até lá, toda a corte dos céus veio para  receber com hinos de triunfo a mãe do divino Senhor. Que coro de exultação: “levantai as vossas portas ó príncipes, ó portas eternas para que a Rainha da Glória possa entrar”. (Descrição da tradição católica citada por Loirraine Boettner). Este dogma passou a vigorar em 1 de novembro de 1950 pelo mariólatra Papa Pio XII.

Refutação:
1.    Enquanto a profecia a respeito de Cristo diz: “... nem permitirás que o teu santo veja a corrupção.” (Sl. 16.11) com referências em At 2.27-32 e 13.33-37, fala a respeito do santo não ver a corrupção, e nunca uma santa não ver a corrupção. 

2.    Contudo, as Escrituras deixam claro que a glorificação dos santos só acontecerá depois da volta de Cristo, e não fala que Maria seria uma exceção (I Co. 15.20-23). 

II - ENSINOS FALSOS NOS APÓCRIFOS
2.1 Problemas históricos 

a)    Eles foram escritos no período de silêncio de Deus ou seja, depois de Malaquias e antes de Mateus.

b)    A vulgata, a versão oficial da Igreja Católica, foi feita por Jerônimo, distingue entre libris canonice (livros canônicos) e libris ecclesiastici (livros apócrifos).

c)    No concilio de Cartago 397, a igreja permitiu a leitura destes livros mais, não como inspirados.

d)    Em 1548 Roma aceitou os apócrifos como canônicos. Com exceção de 3-4 de Esdras e a oração de Manasses.

e)    Os reformadores não reconheceram tais livros.
          
2.2 Contradições  em relação aos livros canônicos. Exemplos:

a) Justificação pelas obras: Eclesiástico 3.33; Tobias 4.7-11

b) Mediação dos santos: Tobias 12.12.

c) Oração pelos mortos: 2 Macabeus 12.44-46.

d) Supertição grosseira: Tobias 6.7-19 etc.

2.3 Tradição 

Afirmação: “Elas (tradição Católica e Bíblia) estão entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois promanando ambas de mesma fonte divina”. (p. 35).

III – DOUTRINA PAPAL
3.1 Atributos papal.

a)    Sumo Pontífice – Refutação 1 Pe 5.4

b)    O Vigário de Cristo – Refutação Jo 14.16-18

c)    É o caminho entre nós e Deus – Jo 14.16-18

3.1 Pedro primeiro papa.

a)    Pedro era pobre (At 3.6)

b)    Pedro era casado (Mt 8.14-15)

c)    Pedro foi um homem humilde (At 10.25-26)

d)    Pedro foi um repreensível (Gl 2.1.14).

e)    Tiago exerce a liderança no Concilio de Jerusalém (At 15).

f)    Pedro não é o fundamento da Igreja (Ef 2.20, At 4.11, I Pe 2.4-5,8).


IV – SALVAÇÃO POR MEIO DAS OBRAS
O livro “Catecismo da Igreja Católica”  6ª edição, Ed. Vozes, Paulinas, Loyola e Ave-Maria, afirma. “A segunda parte do catecismo expõe como salvação de Deus... torna presente nas ações sagradas da liturgia da Igreja, particularmente nos sete sacramentos”. (p. 16).

Refutação: 

a)    Salvação fruto da Graça de Deus (Ef 1.7, 2.8-9, Rm 3.24, 5.15, 2Tm 1.9; Tt 2.11, 3.5,7).

b)    A Depravação Total não nos permite uma salvação com méritos humanos (Dt 7.7-8, Ef 2.1-3, Rm 3.10-18).
 
c)    A salvação é algo exclusivamente divino (Jo 1.13, 15.16, Mt 19.25-26, At 13.48).

V - CRENÇA NO PURGATÓRIO COMO MEIO DE PURIFICAÇÃO DE PECADO.
Afirmação: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantido a sua salvação eterna, passam após sua morte, por uma purificação a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu”. (p. 247).

Refutação:

a)    Só existem dois caminhos (Mt 7.13)

b)    Fere a suficiência do sacrifício de Cristo (Hb 10.12,Rm 5.1, I Jo 1.7,9) 

c)    Juízo após a morte (Hb 9.27, Lc 16.19-31)

VI – ADORAÇÃO AS IMAGENS
    O Pe. Vicente, teólogo católico faz sua defesa do uso das imagens através dos textos de Ex 25.18 que fala dos querubins e de Nm 21.8-9 que fala da serpente do deserto.

Refutação:

a)    No começo do século VII, Gregório, o grande (590-604), aprovou oficialmente o uso de imagens nas igrejas, mas instituiu que elas não fossem adoradas. Mas, no séc. VIII, ofereceram orações a estas imagens.

b)    Os querubins eram para ornamentação e não para adoração. E além do mais o povo não tinha acesso. A serpente quando começou ser adorada foi destruída 2Rs 18.4.

c)    Advertência contra a idolatria: 1. Os 10 Mandamentos (Ex 20.3-4), 2. Outras ocasiões (Ex 23.13,24, 34.14-17, Dt 4.23-24, 6.14, Js 23.7, Jz 6.10), 3. A idolatria implica na constituição de outros deuses (Ex 34.13, Lv 26.1 Dt 7.4-5, 12.2-3)

d)    No Novo Testamento advertência continua e é muito mais abrangente (Cl 3.5, Mt 6.19-24, Rm 7.7, Hb 13.5-6, I Co 10.14, I Jo 5.21).

    
Anderson José de Andrade Firmino

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O QUE É A PERSEVERANÇA DOS SANTOS?


1. A DOUTRINA DA PERSEVERANÇA É UMA CONCLUSÃO LÓGICA DOS QUATRO PONTOS ANTERIORES DO CALVINISMO.

Se o homem É totalmente depravado e não pode fazer nada para ajudar a si mesmo no que diz respeito as coisas espirituais; se Deus É absolutamente soberano na questão da eleição, fundamentada tão somente em sua própria vontade; se a morte de Cristo realizou-se em favor dos eleitos, assegurando-lhes a salvação; e se Deus chama os eleitos de maneira
irresistível, conclui-se que Deus assegurará a salvação final destes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim.

Se os eleitos não perseverassem, a eleição eterna de Deus falharia, e isto o calvinista não pode admitir. Se Deus decretou a salvação dos eleitos, então, ela acontecerá, incluindo a salvação final dos eleitos.

Se os eleitos não perseverassem, a morte de Cristo seria uma falha, porque o seu desígnio era garantir a salvação dos eleitos.

Se os eleitos não perseverassem, a graça de Deus seria resistível pelos salvos (eles  poderiam rejeitá-la de uma maneira final, depois de estarem salvos), embora a graça fosse irresistível antes de eles serem salvos.

2. A DOUTRINA DA PERSEVERANÇA É DEFINIDA NOS SEGUINTES TERMOS:

A perseverança dos santos É a doutrina que afirma que os eleitos continuarão no caminho da salvação (por serem eles o objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objeto da expiação realizada por Cristo), visto que o mesmo poder de Deus que os salvou os preservará e os santificará até o final.

3. A DOUTRINA DA PERSEVERANÇA NÃO DESCARTA O AFASTAR-SE DE DEUS POR PARTE DO CRENTE.

Esta doutrina rejeita a possibilidade de alguém professar ser crente e viver em um suposto estado de afastamento de Deus por muitos anos, sem enfrentar a mão disciplinadora de Deus; mas esta doutrina não descarta o afastar-se de Deus.

O afastamento de Deus pode ocorrer entre os crentes; todavia, a doutrina da perseverança diz que o verdadeiro crente não ficará permanentemente nesse estado. Se ele permanecer, tal crente deve colocar um grande ponto de interrogação ao lado de sua profissão de fé.

4. A DOUTRINA DA PERSEVERANÇA, DE ACORDO COM O CALVINISMO, NÃO INCLUI A IDEIA DO "CRENTE CARNAL".

Um "crente carnal", conforme muitos o definem, É um crente que foi verdadeiramente salvo, mas está vivendo como um perdido. O "crente carnal" fez uma confissão de fé e viveu por um tempo como verdadeiro crente; agora, porém, ele se voltou para o mundo, e aqueles que o cercam no mundo e os membros da igreja não sabem se ele É um verdadeiro crente ou não. Somente Deus conhece o coração do "crente carnal". 

Ele pode passar todo o resto de sua vida nesta condição; mas, por causa de sua experiência de salvação, ele estará com Cristo na eternidade. Ele É carnal, mas É um crente: ou, ele É um crente, mas É carnal. 

O calvinismo diria: não há salvação onde não há perseverança; e, onde há salvação, ali haverá perseverança.

5. A DOUTRINA DA PERSEVERANÇA INCLUI A SEGURANÇA DO CRENTE; MAS A SEGURANÇA É SOMENTE UM ASPECTO DESTA DOUTRINA; A SEGURANÇA PODE DEIXAR EM SEU RASTRO UMA MANEIRA DE PENSAR E UM VIVER FALSOS.

O ensino dos batistas de "uma vez salvo, salvo para sempre" É apenas um dos lados da moeda e, sendo apenas um dos lados da moeda, tal doutrina pode ser perigosa.

A doutrina da perseverança dos crentes, de conformidade com o calvinismo, tem dois lados - segurança e perseverança. Um não pode existir sem o outro. A doutrina batista da eterna segurança (uma vez salvo, salvo para sempre) tende a desprezar e negligenciar a necessidade de perseverança como prova da verdadeira salvação. 

Deste modo, se ensinarmos a segurança de salvação para um crente e não lhe ensinarmos a realidade da perseverança como prova da salvação, poderemos produzir o mesmo resultado da doutrina do "crente carnal" - pessoas que pensam ser salvas, mas não o são. 

A doutrina da segurança eterna sem a outra metade da moeda torna-se uma permissão de pecar para aqueles que apenas professam ter fé em Cristo, mas que nunca foram verdadeiramente salvos. 

A doutrina calvinista da perseverança dos santos tanto oferece conforto ao crente (ele está eternamente seguro) quanto proporciona realidade à sua confissão de fé em Cristo (o crente compreende que a perseverança na vida cristã  é uma prova da salvação).


Richard Belcher



Fonte:"Jornada na Graça - uma novela teológica", Ed. Fiel

segunda-feira, 16 de abril de 2012

JESUS CRISTO, NOSSO ÚNICO MEDIADOR


Jesus Cristo é a segunda Pessoa da Trindade, o Eterno que entrou no tempo, o Infinito e Imenso que se esvaziou, o Deus que se fez homem, o Senhor do universo que se fez servo. Sendo bendito fez-se maldição, para que nós, filhos da ira, fôssemos abençoados com toda sorte de bênção. Sendo santo fez-se pecado para que fôssemos resgatados da condenação, do poder e da presença do pecado. Jesus é o Verbo que se fez carne e vestiu pele humana para revelar-nos a graça e a glória do Pai. Jesus é o Caminho que nos conduz a Deus. É a porta de entrada do céu. É o Mediador que nos reconcilia com o Pai. Jesus é singular tanto pela natureza de sua Pessoa como pela exclusividade da sua obra.

No mundo inteiro e em todos os tempos, as religiões engendradas pelo homem, se esforçam para abrir caminhos para Deus. Buscam agradar a divindade por meio de obras, rituais e sacrifícios. É uma tentativa desesperada e inócua de abrir caminhos da terra para o céu. Nomeiam uma infinidade de mediadores entre Deus e os homens, no propósito fracassado de conseguir o favor divino. As Escrituras, porém, são categóricas em nos dizer que há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo Homem. Só há um caminho que leva o homem a Deus e esse Caminho é Jesus. Só há uma porta de acesso ao céu e essa Porta é Jesus. Há outros caminhos que parecem ser caminhos de vida, mas no final são caminhos de morte.
Jesus Cristo é o nosso único e suficiente Mediador, e isso por algumas razões:

1. Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens porque Ele é Deus-Homem. Jesus é Deus e Homem ao mesmo tempo. Ele é perfeitamente Deus e perfeitamente Homem. É uma só Pessoa, mas com duas naturezas distintas. Jesus não deixou de ser Deus ao tornar-se Homem. Aquele que nem o céu dos céus pode contê-lo, desceu da glória, esvaziou-se e fez-se carne. Vestiu a nossa pele, nasceu numa manjedoura, cresceu numa carpintaria e morreu numa cruz. Ele é a ponte que nos liga a Deus, o caminho que nos dá acesso ao Pai e a porta de entrada da bem-aventurança eterna.

2. Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens porque é o nosso representante e fiador.Jesus veio ao mundo para ser nosso representante e fiador. Não veio apenas para estar ao nosso lado, mas em nosso lugar. Não veio apenas para falar por nós, mas para morrer por nós. Não veio apenas para nos defender, mas para nos substituir. Sua morte na cruz foi um sacrifício, um sacrifício substitutivo. Ele morreu a nossa morte. Ele pagou a nossa dívida. Ele sofreu o duro golpe da lei que deveríamos sofrer. Ele sorveu sozinho o cálice amargo da ira de Deus que nós deveríamos beber. Ele recebeu em si mesmo a merecida punição do nosso pecado. Ele cumpriu com todas as demandas da justiça divina ao morrer em nosso lugar, em nosso favor, para nos oferecer perdão e vida eterna.

3. Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens porque ressuscitou, venceu a morte, triunfou sobre os principados e potestades e nos fez assentar com ele nas regiões celestes. A morte de Cristo na cruz não foi um sinal de fraqueza e derrota, mas de retumbante vitória. Ele matou a morte e arrancou seu aguilhão, quando ressuscitou dentre os mortos. A vitória de Cristo é a nossa vitória. Morremos com ele e com ele ressuscitamos. Estamos escondidos com Cristo em Deus. Estamos assentados com ele nas regiões celestes, acima de todo principado e potestade. Nele somos mais do que vencedores. Por meio dele temos livre acesso ao trono da graça e chegaremos ao Céu, ao Paraíso, ao Seio de Abraão, à Casa do Pai, à Cidade Santa, à Nova Jerusalém. Ele é nosso irmão mais velho e seguindo suas pegadas, entraremos pelos portais da glória trajando vestes alvas e com palmas em nossas mãos. Com ele, assentar-nos-emos em tronos e, com ele, reinaremos em seu reino de glória, para todo o sempre. Porque Cristo foi tudo para nós na terra, no tempo, na vida e na morte, ele será tudo para nós no céu, na glória e isso, por toda a eternidade.
                           
                                                                                                   Rev. Hernandes Dias Lopes

domingo, 15 de abril de 2012

O QUE É REGENERAÇÃO?

A regeneração é exclusivamente um ato de Deus em que o homem não coopera.( Novo nascimento)

Alguém poderia pensar que esse ponto seria um tanto óbvio após examinar as passagens que ensinam a necessidade da regeneração. No entanto, a maior parte dos cristãos professos crê que o homem deve  fazer algo antes que possa ser regenerado. Católicos romanos, episcopais e outros ensinam que o homem é regenerado pelo batismo. O liberalismo protestante, que é uma rejeição à Palavra de Deus em favor do humanismo, estatismo e relativismo secular, freqüentemente se refere à regeneração como uma mera auto-restauração ou renovação (o elemento espiritual mais alto do homem subjuga o elemento animal mais baixo que habita nele). Fundamentalistas ou evangélicos tendem a cair em duas categorias. Alguns ensinam que a regeneração é exclusivamente um produto da vontade humana. Outros ensinam que o homem coopera com a influência do Espírito Santo e da Bíblia, escolhe a Cristo e é então regenerado. Ambas as visões fazem da regeneração um sinônimo de conversão; ambas fazem do homem o árbitro último de quem é ou não salvo. Por que evangélicos que têm uma visão elevada das Escrituras se enganam de forma tão lastimável num aspecto de tal importância na doutrina cristã? É porque ensinam uma visão defeituosa do pecado original e rejeitam a soberania absoluta de Deus sobre o homem na salvação. Se o homem está morto e é impotente, é alguém que odeia a Deus e que é cego e surdo a verdades espirituais (como a Bíblia claramente ensina), então ele não pode de fato cooperar com Deus na sua regeneração. Um homem não regenerado não pode escolher a Cristo como Salvador mais que um cadáver putrefato. Evangélicos são ofendidos pelas doutrinas bíblicas da predestinação e da eleição. No entanto, se os homens estão espiritualmente mortos, somente aqueles que Deus soberanamente escolheu para regenerar é que podem se arrepender e confiar em Cristo. A idéia que o homem coopera com Deus na regeneração é tão absurda como ensinar que Jesus levantou Lázaro dos mortos porque seu corpo queria ser levantado. Jesus disse “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3:8). Deus Espírito Santo regenera aqueles que Deus deu ao Filho. “Eu [Jesus Cristo] rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17:9). Aqueles que crêem em Jesus Cristo “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:13). Se você crê em Jesus Cristo, isso não ocorre por causa da sua linhagem ou parentela, ou como resultado de uma escolha do seu próprio arbítrio, mas porque você foi regenerado pelo Espírito de Deus. A Bíblia ensina que na regeneração a pessoa não faz absolutamente nada; ela é totalmente passiva. “Deus alcança com a regeneração todos os eleitos; e os não-eleitos Ele ignora. Portanto, esse ato de Deus é irresistível. Nenhum homem tem a capacidade de dizer ‘Eu não serei nascido de novo’, ou de impedir a obra de Deus, ou de colocar obstáculos em Seu caminho ou de torná-lo tão difícil que essa obra não possa ser realizada”.  Assim, na doutrina bíblica da regeneração Deus é exaltado; Deus recebe toda a glória. “Isso, é claro, não significa que o homem não coopera em estágios posteriores da obra da redenção. É muito evidente a partir das Escrituras que ele coopera”. A regeneração é um ato de Deus no coração do homem. “O Espírito Santo vem e faz algo na alma do homem… Ele penetra no recôndito mais íntimo do homem, na sua alma, espírito ou coração”.  O emprego bíblico do termo “coração” é diferente do seu uso contemporâneo. Na Bíblia, “coração” representa todo e qualquer aspecto da natureza do homem, incluindo o intelecto, a vontade e as emoções. Porque o coração do homem é totalmente depravado, somente um ato de Deus sobre a natureza como um todo do homem é capaz de trazê-lo para junto dEle. Portanto, qualquer visão de regeneração que ensine que somente parte do homem (e.g., a vontade) é afetada é antibíblica. Como o Espírito Santo muda a natureza do homem é misterioso. É evidente que a essência ou substância do homem não é alterada. Não há mudança metafísica no homem. A Bíblia também ensina que o homem não é tornado perfeito ou sem pecado através da regeneração. Mesmo os melhores cristãos, como o apóstolo Paulo, tinham que lutar contra o pecado e a tentação (Rm 7:15,25). Num ato instantâneo o Espírito Santo implanta no homem o princípio de uma vida que é nova e espiritual. Essa mudança é tão radical que a Bíblia se refere a ela como um novo nascimento, regeneração e uma aceleração. Essa mudança no coração do homem apresenta dois aspectos: purificação e renovação: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela  lavagem da regeneração e da  renovação do Espírito Santo” (Tt 3:5). “Esses elementos, o purificador e o renovador, não devem ser assumidos como eventos separados. Eles são simplesmente os aspectos constituintes dessa mudança total a partir da qual o chamado de Deus é traduzido da morte para a vida e do reino de Satanás para o reino de Deus, uma mudança que sustenta todas as exigências da nossa condição passada e as exigências da nova vida em Cristo, uma mudança que remove a contradição do pecado e adapta para a fraternidade do filho de Deus”.

O QUE É JUSTIFICAÇÃO?


  Primeiro: não é uma mudança de natureza. É uma declaração que não altera o interior de quem a recebe. Portanto, não estamos tratando aqui da santificação que inevitavelmente ocorre na vida daqueles que foram justificados.Por isso se chama "declaração forense". O que opera uma mudança interior, como afirmamos, é a santificação a qual, lembremo-nos bem, jamais será completa nessa vida. A justificação, ao contrário, é completa, acabada, não pode ser aperfeiçoada.
 Segundo: não é perdão, apesar de envolver isso. O perdão é algo negativo, ou seja, cancela a dívida que temos com Deus, mas a justificação é positiva, ou seja, credita a nós a justiça de Cristo, isto é, somos consideramos eternamente justos por causa da obra vicária. Além disso, o pecador declarado justo por Deus tem ainda o privilégio de saber antecipadamente, hoje mesmo, que no Juízo Final não será considerada a sua vida, mas a de Cristo, pois a justificação é também uma declaração escatológica a seu respeito. Por isso, inclusive, a principal obra do Espírito Santo é apontar Cristo e assim termos a certeza da realidade desse fato de que fomos justificados somente pela graça, tão certo como mergulhamos nas águas do batismo que representa nossa morte e ressurreição bem como a certeza cabal de que assim como nos alimentamos dos elementos da ceia estaremos para sempre nutridos e sustentados por Ele. Exclusivamente Cristo, do início ao fim, é a garantia do salvo.


Se crermos na doutrina da justificação coerentemente, jamais poderemos afirmar que um filho de Deus perde a salvação. Sim, uma vez que Deus declara um pecador justificado, sua salvação é para sempre alicerçada em tal declaração divina. O filho de Deus é assim declarado justo, independentemente de suas obras, sejam elas boas ou más, ou seja, ainda que suas obras sejam as mais santas, ou, que ele incorra em graves pecados, a doutrina da justificação afirma que nada que façamos ou deixemos de fazer pode nos dar ou tirar o céu. 


[...] No minuto em que uma pessoa olha para "Cristo somente" para sua salvação, dependendo da Sua vida santa e sacrifício substitutivo na cruz, naquele exato momento ela ou ele é justificado (posto em posição de justiça, declarado justo, santo, perfeito). A própria santidade de Cristo é imputada (creditada) na conta do crente, como se ele ou ela tivessem vivido uma vida perfeita de obediência - mesmo enquanto aquela pessoa continua a cair repetidamente no pecado durante sua vida. O Cristão não é alguém que está olhando no espelho espiritual, medindo a proximidade de Deus pela experiência e progresso na santidade, mas é antes alguém que está "olhando para Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé" (Hb. 12.2). Resumindo, é o estilo de vida de Cristo, não o nosso, que atinge os requisitos de Deus, e é por Ele que a justiça pode ser transferida para nossa conta, pela fé (olhando somente para Cristo) [...]
HORTON, Michael. O que é um evangélico? Jornal "Os Puritanos" Ano V - Número 3.

sábado, 14 de abril de 2012

IDOLATRIA



Por J. C. RYLE.

"Fujam da idolatria" (1Co 10.14).

À primeira vista pode parecer que o texto que encabeça esta página não seja necessário na Inglaterra. Numa época de educação e inteligência como a nossa, quase podemos chegar à conclusão de que é perda de tempo dizer a um inglês que "fuja da idolatria".

Atrevo-me a dizer que pensar assim seria um grande erro. Creio que vivemos num tempo em que a questão da idolatria encontra-se bem perto de nós, ao nosso redor e mesmo entre nós. Em poucas palavras, o segundo mandamento está sendo transgredido.

Sem mais preâmbulos, proponho que consideremos os seguintes quatro pontos:

I. Definição de idolatria. O que é?
II. A causa da idolatria. De onde provém?
III. A forma que a idolatria adota na Igreja visível de Cristo. Onde está?
IV. A abolição definitiva da idolatria. O que acabará com ela?

Creio que a questão está cercada de dificuldades. Nossa sorte está lançada numa época em que a Verdade está constantemente em perigo de ser sacrificada no altar de uma suposta tolerância, de um suposto amor, de uma suposta paz. Contudo, estou certo de que a verdade sobre a idolatria é a mesma em todas as épocas, em todos os tempos.

I. Permitam-me, em primeiro lugar, oferecer uma definição de idolatria, e mostrar-lhes o que a idolatria é.

Compreender isso é da maior importância. Nessa questão há muitas indefinições e confusões, como sói acontecer em assuntos religiosos. O cristão que não deseja errar continuamente em sua jornada espiritual precisa ter uma rota bem sinalizada em sua mente, com definições claras.

Afirmo, portanto, que a idolatria é a adoração em que a honra que somente Deus merece e somente a Ele deve ser rendida é entregue a Suas criaturas ou a invenções de Suas criaturas.

A idolatria tem várias faces. Pode adotar uma infinidade de formas segundo o grau de ignorância ou de conhecimento. Pode ser obviamente absurda e ridícula ou pode aproximar-se bastante da Verdade e admitir as defesas mais apaixonadas. Mas, seja na adoração a um deus hindu ou na adoração à hóstia na basílica de São Pedro em Roma, o princípio da idolatria é o mesmo. Em ambos os casos, a honra que somente Deus merece é tirada d'Ele e  entregue a algo que não é Deus. E onde quer que isso aconteça, seja num templo pagão ou em igrejas que professam ser cristãs, acontece um ato de idolatria.

Não é preciso que um homem rejeite formalmente a Deus e a Cristo para ser um idólatra. Longe disso. É perfeitamente compatível professar reverência ao Deus da Bíblia e ao mesmo tempo praticar a idolatria. Os filhos de Israel nunca pensaram em renunciar a Deus quando persuadiram Aarão para que fizesse um bezerro de ouro. "Estes são teus deuses [Elohim] que te tiraram da terra do Egito", disseram. E a festa em honra ao bezerro foi chamada de "festa dedicada a Yahweh" (Ex 32.4,5). Jeroboão, por exemplo, jamais pretendeu pedir às dez tribos que abandonassem sua lealdade ao Deus de Davi e Salomão. Quando ergueu os bezerros de ouro em Dã e Betel, disse: "Vocês já subiram muito a Jerusalém. Aqui estão os seus deuses [seus Elohim], ó Israel, que tiraram vocês do Egito" (1Rs 12.28). Devemos observar que em nenhum desses casos um ídolo foi erigido no lugar de Deus, mas sim como uma "ajuda", uma "escada" para cultuar a Deus. Mas em ambos os casos um grande pecado foi cometido. A honra devida unicamente a Deus foi entregue a uma representação de Deus. A majestade e a glória de Yahweh foram ofendidas. O segundo mandamento foi quebrado. Aos olhos de Deus houve um flagrante ato de idolatria.

É tempo de tirarmos de nossas mentes ideias vagas sobre idolatria tão comuns em nossa época. Não devemos pensar, como fazem muitos, que somente há dois tipos de idolatria: a idolatria espiritual do homem que ama a sua esposa, seu filho ou seu dinheiro mais do que ama a Deus e a crassa e aberta idolatria do homem que se inclina diante de uma imagem de madeira, metal ou pedra porque não conhece outra coisa. Sem dúvida, a idolatria é um pecado que ocupa um espaço muito maior do que isso. Não é meramente algo que ocorre na Índia e de que ouvimos falar em reuniões missionárias, nem é algo que se limita a nossos corações e que podemos confessar, de joelhos, diante do Trono da Graça. Idolatria é uma enfermidade que assola a Igreja de Cristo muito mais do que se imagina. É um mal que, como o homem do pecado, se assenta no santuário de Deus (2Ts 2.4). É um pecado que todos precisamos vigiar e contra o qual todos devemos orar constantemente. Ele se desliza em nossa adoração de forma quase imperceptível, e, de repente, cai sobre nós. Quão terríveis são as palavras que Isaías dirigiu não ao adorador de Baal, mas ao judeu frequentador do Templo:  "Mas aquele que sacrifica um boi é como quem mata um homem; aquele que sacrifica um cordeiro, é como quem quebra o pescoço de um cachorro; aquele que faz oferta de cereal é como quem apresenta sangue de porco, e aquele que queima incenso memorial, é como quem adora um ídolo. Eles escolheram os seus caminhos, e suas almas têm prazer em suas práticas detestáveis" (Is 66.3).

Este é um pecado que Deus censurou especialmente em Sua Palavra. Um dos Dez Mandamentos está dedicado à sua proibição. Nem um só deles contém uma declaração tão solene da natureza de Deus e de Seus juízos contra os desobedientes: "Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam" (Ex 20.5). Talvez nenhum outro mandamento seja tão enfatizado quanto este, especialmente no capítulo 4 de Deuteronômio.

Esse é o pecado que os judeus parecem ter sido mais propensos a cometer antes da destruição do Templo de Salomão. O que é a história de Israel sob seus juízes e reis, senão a triste repetição de inúmeras quedas na idolatria? Uma e outra vez lemos sobre os "lugares altos" e seus falsos deuses. Uma e outra vez lemos da recaída no velho pecado. Parece que o amor aos ídolos fazia parte da carne e do sangue dos israelitas. Em outras palavras, o pecado dominante da Igreja do Antigo Testamento era a idolatria. Israel desviava-se constantemente para os ídolos e adorava a obra de mãos humanas.

Esse é o pecado, dentre todos os demais, que tem acarretado os juízos mais severos de Deus sobre a Igreja visível. Trouxe sobre Israel os exércitos do Egito, Síria, Assíria e Babilônia. Dispersou as dez tribos, queimou Jerusalém e levou Judá e Benjamim ao cativeiro. Em tempos posteriores trouxe sobre as igrejas orientais a avalanche da invasão sarracena e transformou muitos jardins espirituais em desertos. A desolação que hoje reina onde outrora pregaram Cipriano e Agostinho, a morte em vida na qual estão presas as igrejas da Ásia Menor e da Síria, tudo isso é consequência desse pecado. Todas as coisas testificam da mesma grande verdade que proclama nosso Senhor em Isaías: "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8).

Precisamos entender o fenômeno da idolatria se quisermos manter pura a Igreja de Cristo. Não foi em vão que o Apóstolo Paulo nos deu esta ordem: "Fujam da idolatria".

II. Em segundo lugar, permitam-me mostrar a causa da idolatria. De onde ela provém?

Para o homem que tem uma ideia exagerada sobre o intelecto humano e a razão, a idolatria pode parecer uma coisa absurda. Pode pensar que a idolatria é irracional demais para pôr alguém em perigo, exceto, talvez, mentes muito débeis.

Para alguém que vê o Cristianismo de modo superficial, o perigo da idolatria pode parecer muito pequeno. "Mesmo que quebrem muitos mandamentos" - dizem - "os cristãos não são susceptíveis de cair no engano da idolatria".

Bem, pensar desse modo demonstra um lamentável desconhecimento da natureza humana. Há raízes secretas de idolatria no interior de todos nós. A presença marcante da idolatria em todas as épocas entre os pagãos e as advertências dos ministros protestantes contra a idolatria comprovam cabalmente isso.

A causa de toda a idolatria é a corrupção natural do coração do homem. Essa grande enfermidade congênita com a qual todos os filhos de Adão nascem infectados se manifesta de muitas e variadas formas. Da mesma fonte de onde saem "os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez" (Mc 7.21,22) surgem também as falsas ideias sobre Deus e as falsas ideias sobre adoração; e quando o Apóstolo Paulo fala aos gálatas sobre as "obras da carne" (Gl 5.20), coloca a idolatria em lugar de destaque entre elas.

O homem terá sempre algum tipo de religião. Deus não ficou sem testemunho entre nós. Como velhas inscrições soterradas sob montanhas de escombros, como escritos quase apagados em antigos palimpsestos, há algo gravado tenuamente no fundo do coração humano, algo que nos faz sentir que deve haver alguma religião e algum tipo de culto. A prova disso pode ser encontrada ao redor de todo o planeta. O homem sempre terá alguma forma de culto.

Então entram em jogo os efeitos da Queda. O desconhecimento de Deus, os conceitos carnais e vis a respeito da natureza e dos atributos divinos, ideias mundanas e sensuais a respeito do culto que é aceitável para a Divindade, tudo isso caracteriza a religião do homem natural. Há um desejo em sua mente de ver, sentir e tocar a Divindade. Quer trazer Deus ao seu próprio nível degradado. Não tem a mínima ideia sobre a religião do coração, da fé e do espírito. Em resumo, deseja viver com Deus ao mesmo tempo em que vive de forma corrompida e caída. Até ser renovado pelo Espírito Santo, o homem sempre prestará um culto distorcido. A idolatria, portanto, é um produto do coração caído do homem. É uma erva daninha que, como terra sem cultivo, o coração está sempre disposto a produzir.


Nos surpreendemos ao ler sobre a idolatria de Israel, a Igreja do Antigo Testamento, a adoração a Baal, Moloque, Quemos e Aserá; os lugares altos e os postes-ídolo; as imagens de madeira, e tudo isso à luz da lei mosaica? Não deveríamos nos surpreender. Há uma explicação. Há uma causa.


Nos surpreendemos ao ler sobre como a idolatria se infiltrou gradualmente na Igreja de Cristo, como pouco a pouco foi substituindo o verdadeiro Evangelho, até que os homens chegaram a preferir o altar da Virgem Maria ao de Jesus Cristo? Deixemos de nos surpreender; é compreensível. Há uma causa.


Nos surpreende ouvir falar de homens que abandonam o protestantismo e voltam para a Igreja de Roma? Pensamos que é inexplicável e cremos que nós mesmos jamais poderíamos abandonar a verdadeira adoração pela do papa? Não deveríamos ficar surpresos. Há uma causa.


Essa causa é a corrupção do coração humano. Há uma propensão e uma tendência natural em todos nós de oferecer a Deus uma adoração carnal, sensual, e não a que Ele ordena em Sua Palavra. Estamos sempre dispostos, devido a nossa preguiça e incredulidade, a inventar ajudas visíveis e atalhos em nossa aproximação a Deus. De fato, a idolatria é fácil, é como ir ladeira abaixo, num caminho amplo e espaçoso. A adoração genuína, por outro lado, é como remar contra a corrente. Qualquer outra forma de adoração é mais agradável para o coração corrompido do ser humano do que aquela descrita por nosso Senhor: "Em espírito e em verdade" (Jo 4.23).


Particularmente não fico surpreso com a amplitude de idolatria que existe tanto no mundo quanto na Igreja visível. Creio que é perfeitamente factível que vivamos para ver muito mais do que poderíamos imaginar, nesse quesito. Não ficaria surpreso se surgisse algum poderoso Anticristo pessoal antes do fim, poderoso intelectualmente, poderoso em talentos para o governo, sim, e poderoso, talvez, até mesmo em sinais milagrosos. Não ficaria surpreso em ver alguém assim levantando-se contra Cristo e comandando uma conspiração contra o Evangelho. E estou certo de que muitos se deleitariam em honrar semelhante personagem. Creio que muitos o tratariam como um deus, o reverenciariam como a encarnação da Verdade e o cultuariam como um grande herói. É uma possibilidade. Mas de uma coisa estou certo: nenhum homem está a salvo da idolatria, mesmo os que afirmam desprezar qualquer religião; e a incredulidade e o ateísmo estão a um passo da mais crassa idolatria. Não pensemos, pois, que estamos imunes à idolatria. "Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!" (1Co 10.12). Faremos bem em examinar nossos próprios corações: o germe da idolatria está aí. Lembremos as palavras de Paulo: "Fujam da idolatria".


III. Em terceiro lugar, desejo mostrar as formas que a idolatria tem adotado na Igreja visível. Onde ela está?


Creio que não existe nada mais infundado do que a teoria de que a Igreja de Cristo está a salvo da idolatria. Nem a Escritura nem os fatos apoiam tal teoria. A Igreja contra a qual as portas do inferno não prevalecerão não é a Igreja visível, mas sim todo o corpo dos eleitos, a congregação dos verdadeiros crentes de todo povo e nação. A maior parte da Igreja visível tem sustentado, frequentemente, muitas heresias. Suas ramificações nunca estão a salvo de algum erro fatal, tanto na doutrina quanto na prática. Um abandono da fé, uma queda, o esquecimento do primeiro amor em qualquer parte da Igreja visível não deveria surpreender ao leitor mais atento do Novo Testamento.


Aparentemente parece que os Apóstolos esperavam que a idolatria surgisse mesmo antes do cânon do Novo Testamento ser encerrado. É interessante observar como Paulo trata dessa questão em sua primeira epístola aos Coríntios. Se algum irmão em Corinto fosse idólatra, os membros da igreja não deveriam nem comer com ele (1Co 5.11). "Não sejam idólatras, como alguns deles foram" (1Co 10.7). "Fujam da idolatria" (1Co 10.14). Quando escreve aos colossenses, os adverte contra a "adoração de anjos" (Cl 2.18). E João encerra sua primeira epístola com o solene mandamento: "Filhinhos, guardem-se dos ídolos" (1Jo 5.21).


A bem conhecida profecia do capítulo 4 da primeira epístola de Paulo a Timóteo contém uma passagem deveras interessante: "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios" (1Tm 4.1). Na verdade o real significado dessa expressão é "doutrinas sobre espíritos mortos". E à luz desse significado, a passagem torna-se uma predição direta do auge da forma de idolatria mais perniciosa: a adoração dos santos mortos.


Farei referência, ainda, ao final do capítulo 9 de Apocalipse. Ali podemos ler, no versículo 20: "O restante da humanidade que não morreu por essas pragas, nem assim se arrependeu das obras das suas mãos; eles não pararam de adorar os demônios e os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, ídolos que não podem ver, nem ouvir, nem andar". Aventuro-me a afirmar que é bem possível que as pragas do capítulo 9 de Apocalipse cairão sobre a Igreja visível e que é muito improvável que o Apóstolo João estivesse profetizando sobre os pagãos  que jamais ouviram o Evangelho. A idolatria, aqui, é um pecado predito a respeito da Igreja visível.


E agora, ao passar da Bíblia para os fatos do nosso dia a dia, o que é que observamos? Respondo sem hesitar que existem provas inequívocas de que as advertências e predições da Bíblia não foram feitas sem causa e que efetivamente a idolatria surgiu na Igreja visível de Cristo, e continua existindo nela.


No século IV, Jerônimo queixou-se dos "erros das imagens, que vieram dos gentios para os cristãos"; e Eusébio disse: "Vemos que apresentam imagens de Pedro e Paulo e mesmo de nosso Senhor Jesus Cristo, costume que vem dos antigos hábitos pagãos e que hoje se conservam com indiferença". No século V, Pôncio Paulino, bispo de Nola, fez que pintassem as paredes dos templos com histórias do Antigo Testamento, para que as pessoas olhassem as imagens e decidissem se abster de excessos e revoltas. Mas pouco a pouco aquilo deu margem à idolatria. Irene, mãe de Constantino VI, reuniu um concílio no século VIII, em Nicéia, promulgando um decreto segundo o qual deveriam pôr imagens em todas as igrejas da Grécia e que tais imagens deveriam ser honradas. Nosso Livro de Homilia [da Igreja da Inglaterra] declara: "Congregações e clero, eruditos e analfabetos, homens, mulheres e crianças de todas as classes sociais e idades, em toda a cristandade, naufragaram na mais abominável idolatria, o vício mais detestável por Deus e o mais condenável para o homem, e isso durante mais de 800 anos".


Essa é uma história triste, mas exata. Creio que nenhum homem deveria surpreender-se diante do fato de que a idolatria começou na Igreja primitiva, se considerar cuidadosamente a excessiva reverência que a mesma rendia, desde seus começos, aos aspectos exteriores da religião. Creio que nenhum homem imparcial pode ler a linguagem utilizada por quase todos os "Pais" da Igreja com respeito à própria Igreja, aos bispos, ao ministério, ao batismo, à Ceia do Senhor, aos mártires, aos santos mortos; nenhum homem pode ler tais escritos sem dar-se conta da diferença gritante entre sua linguagem e a linguagem da Escritura em relação a essas questões. São atmosferas bem diferentes. Ao ler os escritos dos Pais, percebemos que não estamos mais em terreno santo. Descobrimos que as coisas que na Bíblia são de importância secundária, começam a ser tratadas como essenciais e fundamentais na literatura patrística. Descobrimos que as coisas relacionadas aos sentidos são exaltadas a uma posição que Paulo, Pedro, Tiago e João, falando pelo Espírito Santo, jamais as consideraram. Sim, ao ingressar na literatura patrística, entramos também nos primórdios da idolatria. Detectamos ali as sementes de um gigantesco esquema de idolatria que posteriormente foi formalmente aceito e estabelecido em todos os rincões da cristandade.


Em nossa própria época, não tenho dúvidas de que a idolatria encontra sua manifestação mais notória na Igreja de Roma.


Sim, a idolatria é um dos mais clamorosos pecados dos quais a Igreja de Roma é culpada. Digo isso com pleno reconhecimento de nossas falhas como protestantes, inclusive não pouca idolatria em nossas fileiras. Mas quando falamos de idolatria formal, reconhecida e sistematizada, francamente devemos falar de catolicismo romano.


Idolatria é ter imagens e retratos de "santos" nas igrejas e reverenciá-los sem base nem precedente algum para isso nas Escrituras. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é invocar a virgem Maria e aos santos e dirigir-se a eles utilizando uma linguagem que nas Escrituras é reservada somente para a Santíssima Trindade. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é inclinar-se diante de coisas materiais e atribuir a elas um poder e uma santidade muito superiores aos que eram atribuídos, por exemplo, à arca da aliança ou ao altar de sacrifícios do Antigo Testamento; e um poder e uma santidade completamente alheios à Palavra de Deus. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é adorar aquilo que foi feito pelas mãos dos homens, chamar isso de Deus e adorá-lo quando é erguido diante de nossos olhos. E posto que é assim com a doutrina da transubstanciação e com a elevação da hóstia, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é fazer de homens ordenados mediadores entre Deus e o povo, roubando do Senhor Jesus Cristo o Seu ofício e rendendo a tais homens uma honra que até mesmo os Apóstolos e os anjos rejeitaram para si, como podemos ver nas Escrituras. E posto que é assim que acontece com a honra concedida aos papas e sacerdotes, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Sei que meu linguajar choca muitas mentes. Os homens gostam de fechar os olhos diante de males que deveriam ser rejeitados. Preferem não ver as coisas que implicam consequencias desagradáveis. Homens assim negarão que a Igreja de Roma é idólatra.


Os romanistas nos dizem que a reverência que a Igreja de Roma dá aos santos e às imagens não equivale à idolatria. Eles nos informam que há distinções entre a adoração "latria" e "dulia", entre uma mediação de redenção e uma mediação de intercessão, e isso os deixa sem culpa. Minha resposta é que a Bíblia desconhece essas distinções e que, na prática efetiva da absoluta maioria dos católicos romanos, tais distinções artificiais não existem em absoluto.


Os romanistas nos dizem, também, que é um erro supor que os católicos romanos realmente adoram imagens e retratos diante dos quais realizam seus cultos, e que somente os utilizam como "ajudas" para a devoção, e que na realidade estão olhando bem mais além. Minha resposta é que muitos pagãos podem dizer o mesmo de sua idolatria. Tal desculpa não é válida. Os termos do segundo mandamento são bem claros: proíbe-se prostrar, além de adorar. E a conduta da Igreja de Roma, com sua preocupação de excluir o segundo mandamento de seus catecismos e ensinos, fala por si mesma como um fato que testifica da consciência culpada pela idolatria dos dirigentes católicos.


Os romanistas nos dizem, ainda, que não temos provas de nossas asseverações a respeito da idolatria; que baseamos nossas conclusões nos "abusos" que cometem os membros mais ignorantes da comunhão católica, e que é absurdo dizer que uma Igreja onde há tantos homens sábios e eruditos seja uma Igreja idólatra. Ora, qualquer um que leia as orações católicas dirigidas a Maria (escritas por ilustres membros do colegiado católico) verá que não cometemos nenhum exagero quando afirmamos que a Igreja de Roma é idólatra. Tais orações e louvores são dirigidos a uma mulher que, apesar de ser grandemente favorecida e de ser a mãe terrena de nosso Senhor, era no entanto tão pecadora quanto qualquer um de nós, uma mulher que confessou sua própria necessidade de um Salvador pessoal: "O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lc 1.47). Essa linguagem, à luz do Novo Testamento, revela a terrível idolatria da qual a Igreja de Roma é culpada.


Mas, além disso, temos outras evidências fornecidas pela própria Roma. O que os devotos, homens e mulheres, fazem diante do papa? Que religião impera atrás dos muros do Vaticano? Como é o catolicismo em Roma, sem travas nem restrições? Que os homens observem o que acontece naquele lugar, e em suas sucursais espalhadas pelo mundo todo, e não poderão deixar de chegar à conclusão de que o romanismo não passa de um gigantesco sistema de adoração a Maria e aos santos e a imagens e a relíquias e a sacerdotes; em poucas palavras, uma grande idolatria organizada.


Há uma grande diferença entre os dogmas da Igreja de Roma e as opiniões particulares de seus membros. Creio que muitos católicos romanos são incoerentes em seus corações e são até mesmo melhores do que a igreja a qual pertencem, pelo menos assim espero. Lembro aqui dos jansenitas, de Quesnel e de Martin Boss. Creio que há muitos pobres católicos que praticam a idolatria porque não conhecem nada melhor. Não têm uma Bíblia que os instrua. Não contam com um ministro fiel que lhes ensine. Temem ao sacerdote diante deles e não se atrevem a pensar por si mesmos. Em tempos como estes, quando muitos estão dispostos a separar-se da verdadeira Igreja e seguir para a Igreja de Roma, minha consciência me repreenderia caso não advertisse claramente aos homens que o catolicismo romano é idólatra e que quem se une a ele une-se também aos ídolos.


Em nenhum outro lugar a idolatria se manifesta tão visivelmente como na Igreja de Roma.


IV. E agora, em último lugar, desejo falar sobre a abolição definitiva da idolatria. O que acabará com ela?


Considero que a alma do homem que não deseja a extinção da idolatria encontra-se enferma.  Não pode estar em comunhão com o Deus verdadeiro o coração que pensa nos bilhões que estão mergulhados no paganismo ou os que honram ao falso profeta Maomé ou aos que oferecem diariamente orações a Maria e aos santos, e não clama: "Oh, meu Deus, quando chegará o fim de todas essas coisas? Até quando, Senhor?".


Aqui, como em outras questões, a palavra da profecia vem em nosso auxílio. Um dia chegará ao fim toda forma de idolatria. Sua condenação é certa. Sua destruição está assinalada. Seja em templos pagãos, seja em supostas igrejas "cristãs", a idolatria será destruída na Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Então se cumprirá plenamente a profecia de Isaías: "os ídolos desaparecerão por completo" (Is 2.18). Cumprir-se-ão as palavras de Miquéias: "Destruirei as suas imagens esculpidas e as suas colunas sagradas; vocês não se curvarão mais diante da obra de suas mãos" (Mq 5.13). E as palavras de Sofonias: "O SENHOR será terrível contra eles, quando destruir todos os deuses da terra" (Sf 2.11).


E as palavras de Zacarias: "Naquele dia eliminarei da terra de Israel os nomes dos ídolos, e nunca mais serão lembrados" (Zc 13.2). Numa palavra, o Salmo 97 encontrará seu pleno cumprimento: "O SENHOR reina! Ficam decepcionados todos os que adoram imagens e se vangloriam de ídolos. Prostram-se diante dele todos os deuses!" (Sl 97.1,7).


A Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo é essa bendita esperança que deve consolar todos os filhos de Deus. É a estrela polar que deve guiar nossa viagem. É o ponto no qual todas as nossas expectativas devem concentrar-se. "Pois em breve, muito em breve Aquele que vem virá, e não demorará" (Hb 10.37). O Senhor manifestará Seu grande poder, reinará e fará com que todo joelho se dobre diante d'Ele.


Até então não desfrutamos perfeitamente de nossa redenção, como diz Paulo aos efésios: "vocês foram selados para o dia da redenção" (Ef 4.30). Até Cristo voltar nossa salvação não estará completa, como diz Pedro: "são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo" (1Pe 1.5). Em resumo, o melhor está por vir.


Mas, no dia do regresso de nosso Senhor, todo desejo receberá sua plena satisfação. Já não estaremos mais abatidos e exaustos por esse sentimento de debilidade e decepção. Na presença do Senhor encontraremos plenitude de alegria, e ao despertarmos em Sua semelhança estaremos satisfeitos verdadeiramente (Sl 16.11; 17.15).


Agora há muitas abominações na Igreja visível ante as quais somente podemos gemer e clamar como faziam os fiéis no tempo de Ezequiel (cf. Ez 9.4). Não podemos eliminar todos os erros. O trigo e o joio crescem juntos até chegar a colheita. Mas está próximo o dia em que o Senhor Jesus purificará uma vez mais o Seu templo e lançará fora toda a imundície. Fará a obra da qual os atos de Ezequias e Josias foram um pálido tipo em suas épocas. Lançará fora as imagens e destruirá a idolatria em todas as suas manifestações.


Quem anela agora pela conversão do mundo pagão? Não a veremos em sua plenitude até a manifestação do Senhor Jesus. Então, e somente então, será cumprida esta palavra: "Naquele dia os homens atirarão aos ratos e aos morcegos os ídolos de prata e os ídolos de ouro, que fizeram para adorar" (Is 2.20).


Quem anseia agora pela redenção de Israel? Não a veremos em sua plenitude até que o Redentor venha a Sião. A idolatria na Igreja professante de Cristo tem sido uma das mais terríveis pedras de tropeço no caminho dos judeus. Quando comece a cair, começará a ser retirado o véu que cobre o coração de Israel (cf. Sl 102.16).


Quem deseja agora a queda do Anticristo e a purificação da Igreja de Roma? Não a veremos até o fim desta era. Esse vasto sistema de idolatria será consumido pela manifestação do Senhor (cf. 2Ts 2.8).


Quem quer uma Igreja perfeita, uma Igreja na qual não exista mais a menor mancha de idolatria? Não a veremos até o retorno do Senhor. Então, e somente então, veremos uma Igreja perfeita, uma Igreja sem mancha nem ruga nem coisas semelhantes (cf. Ef 5.27), uma Igreja da qual todos os membros estarão regenerados e todos serão filhos de Deus.


Se é assim, os homens não devem surpreender-se quando os instemos a estudar a profecia e a confiar na doutrina da Segunda Vinda de Cristo. Essa é a "tocha que ilumina na escuridão", à qual faremos bem em prestar atenção. Deixemos que outros se entreguem às fantasias, se assim o desejam, com a ideia imaginária de uma "Igreja do futuro". Deixemos que os filhos deste mundo sonhem com um tipo de "homem vindouro" que compreenda todas as coisas e ponha ordem neste mundo. Somente estão cultivando uma amarga decepção. Reconhecerão que suas visões são infundadas e vazias como um sonho fugaz. A eles podem bem ser aplicadas as palavras do profeta: "Mas agora, todos vocês que acendem fogo e fornecem a si mesmos tochas acesas, vão, andem na luz de seus fogos e das tochas que vocês acenderam. Vejam o que receberão da minha mão: vocês se deitarão atormentados" (Is 50.11).


Atente para a Segunda Vinda de Cristo. Esse é o único Dia em que se corrigirá todo abuso e se castigará toda corrupção e fonte de tristeza. Aguardando esse Dia, trabalhemos e sirvamos a nossa geração; não estando ociosos, como se nada pudesse ser feito para refrear o mal; mas também não num ativismo cego e infrutífero, pois vemos todas as coisas ainda sujeitas ao nosso Senhor. Depois de tudo, a noite está avançada e o Dia vem se aproximando. Eu o exorto a esperar no Senhor.


Posto que as coisas são assim, os homens não devem se surpreender de nossas advertências a respeito da Igreja de Roma. Sem dúvida, quando a ideia de Deus a respeito da idolatria é revelada tão claramente em Sua Palavra, parece o cúmulo do absurdo unir-se a uma instituição tão impregnada de idolatria como a Igreja de Roma. Nem pensar em ter comunhão com ela, quando Deus diz: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!" (Ap 18.4). Nem pensar em buscá-la, quando o Senhor nos adverte para que a abandonemos e não nos convertamos em seus súditos. "Fuja pela sua vida, fuja da ira vindoura". Pertencer à Igreja de Roma certamente é cegueira mental, uma cegueira como a daquele que, mesmo avisado, embarca num navio que está naufragando; uma cegueira indesculpável, diante de tudo aquilo que se pode ver na Igreja de Roma.


Todos devemos vigiar. Não devemos aceitar nada a priori. Não devemos supor apressadamente que somos muito sábios para que alguém nos engane. Aqueles que pregam devem clamar em voz alta e jamais calar, não permitir que nenhuma falsa amabilidade os silencie com respeito às heresias destes tempos. Aqueles que ouvem devem cingir-se com o cinto da Verdade e ter suas mentes cheias de ideias claras com relação ao fim de todos os que se prostram diante de ídolos. Veja, o fim de todas as coisas se aproxima e com ele a abolição da idolatria. É hora de aproximar-se de Roma? Não será hora de afastar-se dela? É hora de mitigar e menosprezar a corrupção de Roma e de negar a gravidade de seus pecados? Sem dúvida deveríamos ser muito mais zelosos e impedir qualquer tentativa de romanizar a verdadeira religião, e duplamente cuidadosos a fim de evitar toda conivência com qualquer traição contra Cristo, e sempre dispostos a protestar contra a adoração antibíblica de qualquer tipo. Repito que a destruição da idolatria é certa; portanto, afastemo-nos da Igreja de Roma.


O assunto que estou tratando é de importância profunda e transcendente e exige a séria atenção de todos os protestantes. Tem estado em marcha um exitoso processo de desprotestantização. Sustento que devemos resistir firmemente ao romanismo. Apesar da suposta erudição e devoção de seus defensores, trata-se de um movimento pernicioso, destruidor de almas e contrário às Escrituras. Dizer que a união com Roma seria um insulto para os nossos reformadores martirizados é ser muito suave: seria um pecado e uma ofensa contra Deus! Antes de vê-la unida à Igreja de Roma, preferiria ver minha amada Igreja perecer em pedaços. Melhor morrer do que tornar-se papista!


Sem dúvida, a Unidade abstrata é algo excelente; mas a Unidade sem a Verdade é inútil. A Paz e a Uniformidade são belas e valiosas: mas a Paz sem o Evangelho - a Paz baseada num episcopado comum e não numa fé comum - carece de valor e não merece apelativo. Quando Roma tiver revogado os decretos de Trento e suas adições ao Credo, quando Roma houver se retratado de suas doutrinas falsas e antibíblicas, quando Roma renunciar formalmente à adoração de imagens, à adoração a Maria e à transubstanciação; então, e somente então, será hora de falar em união com ela. Até então há um abismo sobre o qual não se pode construir uma ponte segura. Até então, chamo todos os pastores a resistir até a morte contra a ideia de união com Roma. Nosso lema deve ser: "Não à comunhão com os idólatras!".


Escrevo tudo isso com tristeza. Mas as circunstâncias fazem com que seja absolutamente necessário que nos pronunciemos. Independentemente de para que lado do horizonte olhemos, vejo motivos para alarme. Não temo em absoluto pela verdadeira Igreja de Cristo. Mas temo pela Igreja da Inglaterra e por todas as igrejas protestantes da Inglaterra. A maré de acontecimentos parece ir contra o protestantismo e a favor do romanismo. Parece que Deus tem uma controvérsia conosco como nação e que está a ponto de castigar-nos pelos nossos pecados.


Não sou profeta. Não sei para onde nos dirigimos. Mas é possível que em alguns anos a Igreja da Inglaterra una-se à Igreja de Roma. Talvez a coroa real britânica descanse outra vez sobre a cabeça de um papista. Talvez a missa volte a ser rezada em Westminster. O resultado será que todos os cristãos que leem a Bíblia devem abandonar a Igreja da Inglaterra ou então aprovar a adoração de ídolos, transformando-se em idólatras! Deus nos conceda que jamais cheguemos a semelhante estado de coisas!


E agora somente me resta concluir mencionando algumas diretrizes para as almas de meus leitores. Vivemos numa época em que a Igreja de Roma caminha entre nós com forças renovadas e jactando-se de recuperar o terreno perdido. Permitam-me sinalizar como poderemos estar a salvo dela.


1) Precisamos de um profundo conhecimento da Palavra de Deus. Leiamos nossas Bíblias diligentemente. Que a Palavra habite em nós abundantemente. A leitura bíblica deve ser nossa prioridade. A Bíblia é a espada do Espírito; jamais a deixemos de lado. A Bíblia é nossa lâmpada, a verdadeira tocha, não andemos sem a sua luz. A Bíblia é a estrada real. Se a deixarmos por outro caminho - por mais bonito, antigo e frequentado que pareça - não devemos nos surpreender se acabamos adorando imagens e relíquias e indo ao confessionário com regularidade.


2) Precisamos de um zelo piedoso pelo Evangelho. Não deixemos de censurar qualquer tentativa, por menor que seja, de tirar um jota ou um til do Evangelho. Subtrair ensinos da Palavra de Deus é um caminho seguro para a idolatria.


3) Precisamos de ideias claras e sadias sobre o nosso Senhor Jesus Cristo e da salvação que há n'Ele. Ele é "a imagem do Deus invisível" e a verdadeira proteção contra toda idolatria quando O conhecemos verdadeiramente. Edifiquemos nossas vidas sobre o firme fundamento da obra que Ele completou na cruz. Tenhamos bem claro que Jesus já fez tudo o que é necessário para que sejamos salvos e que nossa parte é simplesmente exercer a fé de  uma criança. Não duvidemos que com esta fé já estamos plenamente justificados e que não podemos acrescentar nada aos méritos de Cristo.


Acima de tudo, mantenhamos comunhão contínua com a pessoa do Senhor Jesus! Habitemos n'Ele diariamente, alimentemos-nos d'Ele continuamente, olhemos para Ele e apoiemos-nos n'Ele o tempo todo! Compreendamos isso, e a ideia de outros mediadores parecerá completamente absurda. "Que necessidade tenho eu de ídolos?", diremos. "Tenho a Cristo e n'Ele tenho tudo. Que tenho a ver com os ídolos? Tenho Jesus em meu coração, Jesus na Bíblia, Jesus no Céu, e não quero nem preciso de nada mais!".


Uma vez que permitimos que o Senhor Jesus ocupe o lugar correto em nossos corações, todas as demais coisas em nossa religião serão ajustadas corretamente. A Igreja, os ministros, os sacramentos ou ordenanças, tudo o mais ocupará um segundo lugar.


A menos que Cristo se assente como Sacerdote e Rei no trono de nossos corações, nosso pequeno reino interior estará em perpétua confusão. Mas se Ele for "tudo em tudo", aí tudo irá bem. Diante d'Ele cairá todo ídolo! Conhecer a Cristo corretamente, crer em Cristo verdadeiramente, amar a Cristo de todo o coração é a verdadeira proteção contra o ritualismo, o catolicismo romano e toda forma de idolatria.


John Charles Ryle (1816-1900) foi o primeiro bispo de Liverpool, um escritor prolífico e defensor do caráter protestante da Igreja da Inglaterra. Mais de 100 anos depois de sua morte, seus escritos ainda falam poderosamente aos cristãos da atualidade.


Fonte: RYLE, J. C. Advertencias a las Iglesias. Moral de Calatrava (Ciudad Real): Peregrino, 2003, pp. 132-157. Traduzido do espanhol. 
ide-se � �/ u � 6 0f5 ia!" (1Co 10.12). Faremos bem em examinar nossos próprios corações: o germe da idolatria está aí. Lembremos as palavras de Paulo: "Fujam da idolatria".


III. Em terceiro lugar, desejo mostrar as formas que a idolatria tem adotado na Igreja visívelOnde ela está?


Creio que não existe nada mais infundado do que a teoria de que a Igreja de Cristo está a salvo da idolatria. Nem a Escritura nem os fatos apoiam tal teoria. A Igreja contra a qual as portas do inferno não prevalecerão não é a Igreja visível, mas sim todo o corpo dos eleitos, a congregação dos verdadeiros crentes de todo povo e nação. A maior parte da Igreja visível tem sustentado, frequentemente, muitas heresias. Suas ramificações nunca estão a salvo de algum erro fatal, tanto na doutrina quanto na prática. Um abandono da fé, uma queda, o esquecimento do primeiro amor em qualquer parte da Igreja visível não deveria surpreender ao leitor mais atento do Novo Testamento.


Aparentemente parece que os Apóstolos esperavam que a idolatria surgisse mesmo antes do cânon do Novo Testamento ser encerrado. É interessante observar como Paulo trata dessa questão em sua primeira epístola aos Coríntios. Se algum irmão em Corinto fosse idólatra, os membros da igreja não deveriam nem comer com ele (1Co 5.11). "Não sejam idólatras, como alguns deles foram" (1Co 10.7). "Fujam da idolatria" (1Co 10.14). Quando escreve aos colossenses, os adverte contra a "adoração de anjos" (Cl 2.18). E João encerra sua primeira epístola com o solene mandamento: "Filhinhos, guardem-se dos ídolos" (1Jo 5.21).


A bem conhecida profecia do capítulo 4 da primeira epístola de Paulo a Timóteo contém uma passagem deveras interessante: "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios" (1Tm 4.1). Na verdade o real significado dessa expressão é "doutrinas sobre espíritos mortos". E à luz desse significado, a passagem torna-se uma predição direta do auge da forma de idolatria mais perniciosa: a adoração dos santos mortos.


Farei referência, ainda, ao final do capítulo 9 de Apocalipse. Ali podemos ler, no versículo 20: "O restante da humanidade que não morreu por essas pragas, nem assim se arrependeu das obras das suas mãos; eles não pararam de adorar os demônios e os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, ídolos que não podem ver, nem ouvir, nem andar". Aventuro-me a afirmar que é bem possível que as pragas do capítulo 9 de Apocalipse cairão sobre a Igreja visível e que é muito improvável que o Apóstolo João estivesse profetizando sobre os pagãos  que jamais ouviram o Evangelho. A idolatria, aqui, é um pecado predito a respeito da Igreja visível.


E agora, ao passar da Bíblia para os fatos do nosso dia a dia, o que é que observamos? Respondo sem hesitar que existem provas inequívocas de que as advertências e predições da Bíblia não foram feitas sem causa e que efetivamente a idolatria surgiu na Igreja visível de Cristo, e continua existindo nela.


No século IV, Jerônimo queixou-se dos "erros das imagens, que vieram dos gentios para os cristãos"; e Eusébio disse: "Vemos que apresentam imagens de Pedro e Paulo e mesmo de nosso Senhor Jesus Cristo, costume que vem dos antigos hábitos pagãos e que hoje se conservam com indiferença". No século V, Pôncio Paulino, bispo de Nola, fez que pintassem as paredes dos templos com histórias do Antigo Testamento, para que as pessoas olhassem as imagens e decidissem se abster de excessos e revoltas. Mas pouco a pouco aquilo deu margem à idolatria. Irene, mãe de Constantino VI, reuniu um concílio no século VIII, em Nicéia, promulgando um decreto segundo o qual deveriam pôr imagens em todas as igrejas da Grécia e que tais imagens deveriam ser honradas. Nosso Livro de Homilia [da Igreja da Inglaterra] declara: "Congregações e clero, eruditos e analfabetos, homens, mulheres e crianças de todas as classes sociais e idades, em toda a cristandade, naufragaram na mais abominável idolatria, o vício mais detestável por Deus e o mais condenável para o homem, e isso durante mais de 800 anos".


Essa é uma história triste, mas exata. Creio que nenhum homem deveria surpreender-se diante do fato de que a idolatria começou na Igreja primitiva, se considerar cuidadosamente a excessiva reverência que a mesma rendia, desde seus começos, aos aspectos exteriores da religião. Creio que nenhum homem imparcial pode ler a linguagem utilizada por quase todos os "Pais" da Igreja com respeito à própria Igreja, aos bispos, ao ministério, ao batismo, à Ceia do Senhor, aos mártires, aos santos mortos; nenhum homem pode ler tais escritos sem dar-se conta da diferença gritante entre sua linguagem e a linguagem da Escritura em relação a essas questões. São atmosferas bem diferentes. Ao ler os escritos dos Pais, percebemos que não estamos mais em terreno santo. Descobrimos que as coisas que na Bíblia são de importância secundária, começam a ser tratadas como essenciais e fundamentais na literatura patrística. Descobrimos que as coisas relacionadas aos sentidos são exaltadas a uma posição que Paulo, Pedro, Tiago e João, falando pelo Espírito Santo, jamais as consideraram. Sim, ao ingressar na literatura patrística, entramos também nos primórdios da idolatria. Detectamos ali as sementes de um gigantesco esquema de idolatria que posteriormente foi formalmente aceito e estabelecido em todos os rincões da cristandade.


Em nossa própria época, não tenho dúvidas de que a idolatria encontra sua manifestação mais notória na Igreja de Roma.


Sim, a idolatria é um dos mais clamorosos pecados dos quais a Igreja de Roma é culpada. Digo isso com pleno reconhecimento de nossas falhas como protestantes, inclusive não pouca idolatria em nossas fileiras. Mas quando falamos de idolatria formal, reconhecida e sistematizada, francamente devemos falar de catolicismo romano.


Idolatria é ter imagens e retratos de "santos" nas igrejas e reverenciá-los sem base nem precedente algum para isso nas Escrituras. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é invocar a virgem Maria e aos santos e dirigir-se a eles utilizando uma linguagem que nas Escrituras é reservada somente para a Santíssima Trindade. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é inclinar-se diante de coisas materiais e atribuir a elas um poder e uma santidade muito superiores aos que eram atribuídos, por exemplo, à arca da aliança ou ao altar de sacrifícios do Antigo Testamento; e um poder e uma santidade completamente alheios à Palavra de Deus. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é adorar aquilo que foi feito pelas mãos dos homens, chamar isso de Deus e adorá-lo quando é erguido diante de nossos olhos. E posto que é assim com a doutrina da transubstanciação e com a elevação da hóstia, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é fazer de homens ordenados mediadores entre Deus e o povo, roubando do Senhor Jesus Cristo o Seu ofício e rendendo a tais homens uma honra que até mesmo os Apóstolos e os anjos rejeitaram para si, como podemos ver nas Escrituras. E posto que é assim que acontece com a honra concedida aos papas e sacerdotes, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Sei que meu linguajar choca muitas mentes. Os homens gostam de fechar os olhos diante de males que deveriam ser rejeitados. Preferem não ver as coisas que implicam consequencias desagradáveis. Homens assim negarão que a Igreja de Roma é idólatra.


Os romanistas nos dizem que a reverência que a Igreja de Roma dá aos santos e às imagens não equivale à idolatria. Eles nos informam que há distinções entre a adoração "latria" e "dulia", entre uma mediação de redenção e uma mediação de intercessão, e isso os deixa sem culpa. Minha resposta é que a Bíblia desconhece essas distinções e que, na prática efetiva da absoluta maioria dos católicos romanos, tais distinções artificiais não existem em absoluto.


Os romanistas nos dizem, também, que é um erro supor que os católicos romanos realmente adoram imagens e retratos diante dos quais realizam seus cultos, e que somente os utilizam como "ajudas" para a devoção, e que na realidade estão olhando bem mais além. Minha resposta é que muitos pagãos podem dizer o mesmo de sua idolatria. Tal desculpa não é válida. Os termos do segundo mandamento são bem claros: proíbe-se prostrar, além de adorar. E a conduta da Igreja de Roma, com sua preocupação de excluir o segundo mandamento de seus catecismos e ensinos, fala por si mesma como um fato que testifica da consciência culpada pela idolatria dos dirigentes católicos.


Os romanistas nos dizem, ainda, que não temos provas de nossas asseverações a respeito da idolatria; que baseamos nossas conclusões nos "abusos" que cometem os membros mais ignorantes da comunhão católica, e que é absurdo dizer que uma Igreja onde há tantos homens sábios e eruditos seja uma Igreja idólatra. Ora, qualquer um que leia as orações católicas dirigidas a Maria (escritas por ilustres membros do colegiado católico) verá que não cometemos nenhum exagero quando afirmamos que a Igreja de Roma é idólatra. Tais orações e louvores são dirigidos a uma mulher que, apesar de ser grandemente favorecida e de ser a mãe terrena de nosso Senhor, era no entanto tão pecadora quanto qualquer um de nós, uma mulher que confessou sua própria necessidade de um Salvador pessoal: "O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lc 1.47). Essa linguagem, à luz do Novo Testamento, revela a terrível idolatria da qual a Igreja de Roma é culpada.


Mas, além disso, temos outras evidências fornecidas pela própria Roma. O que os devotos, homens e mulheres, fazem diante do papa? Que religião impera atrás dos muros do Vaticano? Como é o catolicismo em Roma, sem travas nem restrições? Que os homens observem o que acontece naquele lugar, e em suas sucursais espalhadas pelo mundo todo, e não poderão deixar de chegar à conclusão de que o romanismo não passa de um gigantesco sistema de adoração a Maria e aos santos e a imagens e a relíquias e a sacerdotes; em poucas palavras, uma grande idolatria organizada.


Há uma grande diferença entre os dogmas da Igreja de Roma e as opiniões particulares de seus membros. Creio que muitos católicos romanos são incoerentes em seus corações e são até mesmo melhores do que a igreja a qual pertencem, pelo menos assim espero. Lembro aqui dos jansenitas, de Quesnel e de Martin Boss. Creio que há muitos pobres católicos que praticam a idolatria porque não conhecem nada melhor. Não têm uma Bíblia que os instrua. Não contam com um ministro fiel que lhes ensine. Temem ao sacerdote diante deles e não se atrevem a pensar por si mesmos. Em tempos como estes, quando muitos estão dispostos a separar-se da verdadeira Igreja e seguir para a Igreja de Roma, minha consciência me repreenderia caso não advertisse claramente aos homens que o catolicismo romano é idólatra e que quem se une a ele une-se também aos ídolos.


Em nenhum outro lugar a idolatria se manifesta tão visivelmente como na Igreja de Roma.


IV. E agora, em último lugar, desejo falar sobre a abolição definitiva da idolatriaO que acabará com ela?


Considero que a alma do homem que não deseja a extinção da idolatria encontra-se enferma.  Não pode estar em comunhão com o Deus verdadeiro o coração que pensa nos bilhões que estão mergulhados no paganismo ou os que honram ao falso profeta Maomé ou aos que oferecem diariamente orações a Maria e aos santos, e não clama: "Oh, meu Deus, quando chegará o fim de todas essas coisas? Até quando, Senhor?".


Aqui, como em outras questões, a palavra da profecia vem em nosso auxílio. Um dia chegará ao fim toda forma de idolatria. Sua condenação é certa. Sua destruição está assinalada. Seja em templos pagãos, seja em supostas igrejas "cristãs", a idolatria será destruída na Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Então se cumprirá plenamente a profecia de Isaías: "os ídolos desaparecerão por completo" (Is 2.18). Cumprir-se-ão as palavras de Miquéias: "Destruirei as suas imagens esculpidas e as suas colunas sagradas; vocês não se curvarão mais diante da obra de suas mãos" (Mq 5.13). E as palavras de Sofonias: "O SENHOR será terrível contra eles, quando destruir todos os deuses da terra" (Sf 2.11).


E as palavras de Zacarias: "Naquele dia eliminarei da terra de Israel os nomes dos ídolos, e nunca mais serão lembrados" (Zc 13.2). Numa palavra, o Salmo 97 encontrará seu pleno cumprimento: "O SENHOR reina! Ficam decepcionados todos os que adoram imagens e se vangloriam de ídolos. Prostram-se diante dele todos os deuses!" (Sl 97.1,7).


A Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo é essa bendita esperança que deve consolar todos os filhos de Deus. É a estrela polar que deve guiar nossa viagem. É o ponto no qual todas as nossas expectativas devem concentrar-se. "Pois em breve, muito em breve Aquele que vem virá, e não demorará" (Hb 10.37). O Senhor manifestará Seu grande poder, reinará e fará com que todo joelho se dobre diante d'Ele.


Até então não desfrutamos perfeitamente de nossa redenção, como diz Paulo aos efésios: "vocês foram selados para o dia da redenção" (Ef 4.30). Até Cristo voltar nossa salvação não estará completa, como diz Pedro: "são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo" (1Pe 1.5). Em resumo, o melhor está por vir.


Mas, no dia do regresso de nosso Senhor, todo desejo receberá sua plena satisfação. Já não estaremos mais abatidos e exaustos por esse sentimento de debilidade e decepção. Na presença do Senhor encontraremos plenitude de alegria, e ao despertarmos em Sua semelhança estaremos satisfeitos verdadeiramente (Sl 16.11; 17.15).


Agora há muitas abominações na Igreja visível ante as quais somente podemos gemer e clamar como faziam os fiéis no tempo de Ezequiel (cf. Ez 9.4). Não podemos eliminar todos os erros. O trigo e o joio crescem juntos até chegar a colheita. Mas está próximo o dia em que o Senhor Jesus purificará uma vez mais o Seu templo e lançará fora toda a imundície. Fará a obra da qual os atos de Ezequias e Josias foram um pálido tipo em suas épocas. Lançará fora as imagens e destruirá a idolatria em todas as suas manifestações.


Quem anela agora pela conversão do mundo pagão? Não a veremos em sua plenitude até a manifestação do Senhor Jesus. Então, e somente então, será cumprida esta palavra: "Naquele dia os homens atirarão aos ratos e aos morcegos os ídolos de prata e os ídolos de ouro, que fizeram para adorar" (Is 2.20).


Quem anseia agora pela redenção de Israel? Não a veremos em sua plenitude até que o Redentor venha a Sião. A idolatria na Igreja professante de Cristo tem sido uma das mais terríveis pedras de tropeço no caminho dos judeus. Quando comece a cair, começará a ser retirado o véu que cobre o coração de Israel (cf. Sl 102.16).


Quem deseja agora a queda do Anticristo e a purificação da Igreja de Roma? Não a veremos até o fim desta era. Esse vasto sistema de idolatria será consumido pela manifestação do Senhor (cf. 2Ts 2.8).


Quem quer uma Igreja perfeita, uma Igreja na qual não exista mais a menor mancha de idolatria? Não a veremos até o retorno do Senhor. Então, e somente então, veremos uma Igreja perfeita, uma Igreja sem mancha nem ruga nem coisas semelhantes (cf. Ef 5.27), uma Igreja da qual todos os membros estarão regenerados e todos serão filhos de Deus.


Se é assim, os homens não devem surpreender-se quando os instemos a estudar a profecia e a confiar na doutrina da Segunda Vinda de Cristo. Essa é a "tocha que ilumina na escuridão", à qual faremos bem em prestar atenção. Deixemos que outros se entreguem às fantasias, se assim o desejam, com a ideia imaginária de uma "Igreja do futuro". Deixemos que os filhos deste mundo sonhem com um tipo de "homem vindouro" que compreenda todas as coisas e ponha ordem neste mundo. Somente estão cultivando uma amarga decepção. Reconhecerão que suas visões são infundadas e vazias como um sonho fugaz. A eles podem bem ser aplicadas as palavras do profeta: "Mas agora, todos vocês que acendem fogo e fornecem a si mesmos tochas acesas, vão, andem na luz de seus fogos e das tochas que vocês acenderam. Vejam o que receberão da minha mão: vocês se deitarão atormentados" (Is 50.11).


Atente para a Segunda Vinda de Cristo. Esse é o único Dia em que se corrigirá todo abuso e se castigará toda corrupção e fonte de tristeza. Aguardando esse Dia, trabalhemos e sirvamos a nossa geração; não estando ociosos, como se nada pudesse ser feito para refrear o mal; mas também não num ativismo cego e infrutífero, pois vemos todas as coisas ainda sujeitas ao nosso Senhor. Depois de tudo, a noite está avançada e o Dia vem se aproximando. Eu o exorto a esperar no Senhor.


Posto que as coisas são assim, os homens não devem se surpreender de nossas advertências a respeito da Igreja de Roma. Sem dúvida, quando a ideia de Deus a respeito da idolatria é revelada tão claramente em Sua Palavra, parece o cúmulo do absurdo unir-se a uma instituição tão impregnada de idolatria como a Igreja de Roma. Nem pensar em ter comunhão com ela, quando Deus diz: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!" (Ap 18.4). Nem pensar em buscá-la, quando o Senhor nos adverte para que a abandonemos e não nos convertamos em seus súditos. "Fuja pela sua vida, fuja da ira vindoura". Pertencer à Igreja de Roma certamente é cegueira mental, uma cegueira como a daquele que, mesmo avisado, embarca num navio que está naufragando; uma cegueira indesculpável, diante de tudo aquilo que se pode ver na Igreja de Roma.


Todos devemos vigiar. Não devemos aceitar nada a priori. Não devemos supor apressadamente que somos muito sábios para que alguém nos engane. Aqueles que pregam devem clamar em voz alta e jamais calar, não permitir que nenhuma falsa amabilidade os silencie com respeito às heresias destes tempos. Aqueles que ouvem devem cingir-se com o cinto da Verdade e ter suas mentes cheias de ideias claras com relação ao fim de todos os que se prostram diante de ídolos. Veja, o fim de todas as coisas se aproxima e com ele a abolição da idolatria. É hora de aproximar-se de Roma? Não será hora de afastar-se dela? É hora de mitigar e menosprezar a corrupção de Roma e de negar a gravidade de seus pecados? Sem dúvida deveríamos ser muito mais zelosos e impedir qualquer tentativa de romanizar a verdadeira religião, e duplamente cuidadosos a fim de evitar toda conivência com qualquer traição contra Cristo, e sempre dispostos a protestar contra a adoração antibíblica de qualquer tipo. Repito que a destruição da idolatria é certa; portanto, afastemo-nos da Igreja de Roma.


O assunto que estou tratando é de importância profunda e transcendente e exige a séria atenção de todos os protestantes. Tem estado em marcha um exitoso processo de desprotestantização. Sustento que devemos resistir firmemente ao romanismo. Apesar da suposta erudição e devoção de seus defensores, trata-se de um movimento pernicioso, destruidor de almas e contrário às Escrituras. Dizer que a união com Roma seria um insulto para os nossos reformadores martirizados é ser muito suave: seria um pecado e uma ofensa contra Deus! Antes de vê-la unida à Igreja de Roma, preferiria ver minha amada Igreja perecer em pedaços. Melhor morrer do que tornar-se papista!


Sem dúvida, a Unidade abstrata é algo excelente; mas a Unidade sem a Verdade é inútil. A Paz e a Uniformidade são belas e valiosas: mas a Paz sem o Evangelho - a Paz baseada num episcopado comum e não numa fé comum - carece de valor e não merece apelativo. Quando Roma tiver revogado os decretos de Trento e suas adições ao Credo, quando Roma houver se retratado de suas doutrinas falsas e antibíblicas, quando Roma renunciar formalmente à adoração de imagens, à adoração a Maria e à transubstanciação; então, e somente então, será hora de falar em união com ela. Até então há um abismo sobre o qual não se pode construir uma ponte segura. Até então, chamo todos os pastores a resistir até a morte contra a ideia de união com Roma. Nosso lema deve ser: "Não à comunhão com os idólatras!".


Escrevo tudo isso com tristeza. Mas as circunstâncias fazem com que seja absolutamente necessário que nos pronunciemos. Independentemente de para que lado do horizonte olhemos, vejo motivos para alarme. Não temo em absoluto pela verdadeira Igreja de Cristo. Mas temo pela Igreja da Inglaterra e por todas as igrejas protestantes da Inglaterra. A maré de acontecimentos parece ir contra o protestantismo e a favor do romanismo. Parece que Deus tem uma controvérsia conosco como nação e que está a ponto de castigar-nos pelos nossos pecados.


Não sou profeta. Não sei para onde nos dirigimos. Mas é possível que em alguns anos a Igreja da Inglaterra una-se à Igreja de Roma. Talvez a coroa real britânica descanse outra vez sobre a cabeça de um papista. Talvez a missa volte a ser rezada em Westminster. O resultado será que todos os cristãos que leem a Bíblia devem abandonar a Igreja da Inglaterra ou então aprovar a adoração de ídolos, transformando-se em idólatras! Deus nos conceda que jamais cheguemos a semelhante estado de coisas!


E agora somente me resta concluir mencionando algumas diretrizes para as almas de meus leitores. Vivemos numa época em que a Igreja de Roma caminha entre nós com forças renovadas e jactando-se de recuperar o terreno perdido. Permitam-me sinalizar como poderemos estar a salvo dela.


1) Precisamos de um profundo conhecimento da Palavra de Deus. Leiamos nossas Bíblias diligentemente. Que a Palavra habite em nós abundantemente. A leitura bíblica deve ser nossa prioridade. A Bíblia é a espada do Espírito; jamais a deixemos de lado. A Bíblia é nossa lâmpada, a verdadeira tocha, não andemos sem a sua luz. A Bíblia é a estrada real. Se a deixarmos por outro caminho - por mais bonito, antigo e frequentado que pareça - não devemos nos surpreender se acabamos adorando imagens e relíquias e indo ao confessionário com regularidade.


2) Precisamos de um zelo piedoso pelo Evangelho. Não deixemos de censurar qualquer tentativa, por menor que seja, de tirar um jota ou um til do Evangelho. Subtrair ensinos da Palavra de Deus é um caminho seguro para a idolatria.


3) Precisamos de ideias claras e sadias sobre o nosso Senhor Jesus Cristo e da salvação que há n'Ele. Ele é "a imagem do Deus invisível" e a verdadeira proteção contra toda idolatria quando O conhecemos verdadeiramente. Edifiquemos nossas vidas sobre o firme fundamento da obra que Ele completou na cruz. Tenhamos bem claro que Jesus já fez tudo o que é necessário para que sejamos salvos e que nossa parte é simplesmente exercer a fé de  uma criança. Não duvidemos que com esta fé já estamos plenamente justificados e que não podemos acrescentar nada aos méritos de Cristo.


Acima de tudo, mantenhamos comunhão contínua com a pessoa do Senhor Jesus! Habitemos n'Ele diariamente, alimentemos-nos d'Ele continuamente, olhemos para Ele e apoiemos-nos n'Ele o tempo todo! Compreendamos isso, e a ideia de outros mediadores parecerá completamente absurda. "Que necessidade tenho eu de ídolos?", diremos. "Tenho a Cristo e n'Ele tenho tudo. Que tenho a ver com os ídolos? Tenho Jesus em meu coração, Jesus na Bíblia, Jesus no Céu, e não quero nem preciso de nada mais!".


Uma vez que permitimos que o Senhor Jesus ocupe o lugar correto em nossos corações, todas as demais coisas em nossa religião serão ajustadas corretamente. A Igreja, os ministros, os sacramentos ou ordenanças, tudo o mais ocupará um segundo lugar.


A menos que Cristo se assente como Sacerdote e Rei no trono de nossos corações, nosso pequeno reino interior estará em perpétua confusão. Mas se Ele for "tudo em tudo", aí tudo irá bem. Diante d'Ele cairá todo ídolo! Conhecer a Cristo corretamente, crer em Cristo verdadeiramente, amar a Cristo de todo o coração é a verdadeira proteção contra o ritualismo, o catolicismo romano e toda forma de idolatria.


John Charles Ryle (1816-1900) foi o primeiro bispo de Liverpool, um escritor prolífico e defensor do caráter protestante da Igreja da Inglaterra. Mais de 100 anos depois de sua morte, seus escritos ainda falam poderosamente aos cristãos da atualidade.


Fonte: RYLE, J. C. Advertencias a las Iglesias. Moral de Calatrava (Ciudad Real): Peregrino, 2003, pp. 132-157. Traduzido do espanhol.