Alguém poderia pensar que esse ponto seria um tanto óbvio
após examinar as passagens que ensinam a necessidade da regeneração. No
entanto, a maior parte dos cristãos professos crê que o homem deve fazer
algo antes que possa ser regenerado. Católicos romanos, episcopais e outros
ensinam que o homem é regenerado pelo batismo. O liberalismo protestante, que é
uma rejeição à Palavra de Deus em favor do humanismo, estatismo e relativismo
secular, freqüentemente se refere à regeneração como uma mera auto-restauração
ou renovação (o elemento espiritual mais alto do homem subjuga o elemento
animal mais baixo que habita nele). Fundamentalistas ou evangélicos tendem a
cair em duas categorias. Alguns ensinam que a regeneração é exclusivamente um
produto da vontade humana. Outros ensinam que o homem coopera com a influência
do Espírito Santo e da Bíblia, escolhe a Cristo e é então regenerado. Ambas as
visões fazem da regeneração um sinônimo de conversão; ambas fazem do homem o
árbitro último de quem é ou não salvo. Por que evangélicos que têm uma visão
elevada das Escrituras se enganam de forma tão lastimável num aspecto de tal
importância na doutrina cristã? É porque ensinam uma visão defeituosa do pecado
original e rejeitam a soberania absoluta de Deus sobre o homem na salvação. Se
o homem está morto e é impotente, é alguém que odeia a Deus e que é cego e
surdo a verdades espirituais (como a Bíblia claramente ensina), então ele não
pode de fato cooperar com Deus na sua regeneração. Um homem não regenerado não
pode escolher a Cristo como Salvador mais que um cadáver putrefato. Evangélicos
são ofendidos pelas doutrinas bíblicas da predestinação e da eleição. No
entanto, se os homens estão espiritualmente mortos, somente aqueles que Deus
soberanamente escolheu para regenerar é que podem se arrepender e confiar em
Cristo. A idéia que o homem coopera com Deus na regeneração é tão absurda como
ensinar que Jesus levantou Lázaro dos mortos porque seu corpo queria ser
levantado. Jesus disse “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não
sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do
Espírito” (Jo 3:8). Deus Espírito Santo regenera aqueles que Deus deu ao Filho.
“Eu [Jesus Cristo] rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me
deste, porque são teus” (Jo 17:9). Aqueles que crêem em Jesus Cristo “não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus” (Jo 1:13). Se você crê em Jesus Cristo, isso não ocorre por causa da sua
linhagem ou parentela, ou como resultado de uma escolha do seu próprio
arbítrio, mas porque você foi regenerado pelo Espírito de Deus. A Bíblia ensina
que na regeneração a pessoa não faz absolutamente nada; ela é totalmente
passiva. “Deus alcança com a regeneração todos os eleitos; e os não-eleitos Ele
ignora. Portanto, esse ato de Deus é irresistível. Nenhum homem tem a
capacidade de dizer ‘Eu não serei nascido de novo’, ou de impedir a obra de
Deus, ou de colocar obstáculos em Seu caminho ou de torná-lo tão difícil que
essa obra não possa ser realizada”. Assim, na doutrina bíblica da
regeneração Deus é exaltado; Deus recebe toda a glória. “Isso, é claro, não
significa que o homem não coopera em estágios posteriores da obra da redenção.
É muito evidente a partir das Escrituras que ele coopera”. A regeneração é um
ato de Deus no coração do homem. “O Espírito Santo vem e faz algo na alma do
homem… Ele penetra no recôndito mais íntimo do homem, na sua alma, espírito ou
coração”. O emprego bíblico do termo “coração” é diferente do seu
uso contemporâneo. Na Bíblia, “coração” representa todo e qualquer aspecto da
natureza do homem, incluindo o intelecto, a vontade e as emoções. Porque o
coração do homem é totalmente depravado, somente um ato de Deus sobre a
natureza como um todo do homem é capaz de trazê-lo para junto dEle. Portanto,
qualquer visão de regeneração que ensine que somente parte do homem (e.g., a
vontade) é afetada é antibíblica. Como o Espírito Santo muda a natureza do
homem é misterioso. É evidente que a essência ou substância do homem não é
alterada. Não há mudança metafísica no homem. A Bíblia também ensina que o
homem não é tornado perfeito ou sem pecado através da regeneração. Mesmo os
melhores cristãos, como o apóstolo Paulo, tinham que lutar contra o pecado e a
tentação (Rm 7:15,25). Num ato instantâneo o Espírito Santo implanta no homem o
princípio de uma vida que é nova e espiritual. Essa mudança é tão radical que a
Bíblia se refere a ela como um novo nascimento, regeneração e uma aceleração.
Essa mudança no coração do homem apresenta dois aspectos: purificação e
renovação: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua
misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação
do Espírito Santo” (Tt 3:5). “Esses elementos, o purificador e o renovador, não
devem ser assumidos como eventos separados. Eles são simplesmente os aspectos
constituintes dessa mudança total a partir da qual o chamado de Deus é
traduzido da morte para a vida e do reino de Satanás para o reino de Deus, uma
mudança que sustenta todas as exigências da nossa condição passada e as
exigências da nova vida em Cristo, uma mudança que remove a contradição do
pecado e adapta para a fraternidade do filho de Deus”.
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