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quarta-feira, 27 de julho de 2011

CALVINISMO-parte 4

                        Diferença de ênfase ou de conteúdo?


    Esses cinco pontos da doutrina calvinista formulados em contrapartida às posições arminianas representam fielmente a posição reformada histórica. Deve-se enfatizar, entretanto, que o calvinismo não se confina a essas doutrinas. O calvinismo é um sistema doutrinário bem mais amplo, harmônico, sistemático e, consequentemente, mais sólido. É um sistema teológico fundamentado nos princípios exegéticos mais sadios e aprovados ao longo da História da Igreja. O calvinismo fundamenta-se nas doutrinas da inspiração verbal, da inerrância, da suficiência e da autoridade final e absoluta das Escrituras como regra de fé e de prática. É um sistema doutrinário que coloca o Deus eterno à frente de todas as coisas e que contempla tudo em relação à glória de Deus. O calvinismo está interessado em reconhecer plenamente a majestade, a soberania, a independência, a onisciência, a onipotência, a onipresença, a santidade, a fidelidade, a justiça, a bondade, a longanimidade, o amor, a misericórdia e os demais atributos de Deus, tributando a ele toda virtude, honra, glória, louvor e adoração só a ele devidos. John Wesley reconheceu a ênfase calvinista quando afirmou, com relação a Whitefield, por ocasião do seu funeral: "seu ponto fundamental era dar a Deus toda a glória de tudo o que de bom pode haver no homem. No que diz respeito à salvação, ele colocou Cristo o mais alto possível e o homem o mais baixo."
    A diferença entre o calvinismo e o arminianismo é mais profunda do que pode parecer à primeira vista. Não é simplesmente uma questão de ênfase, e sim de conteúdo. O calvinismo crê em um Deus que realmente salva, enquanto que o arminianismo crê em um Deus que possibilita que o homem se salve. O calvinista crê em um Deus que elege de fato; o arminiano crê em um Deus que apenas ratifica a decisão humana por Cristo. O calvinista Crê em um Redentor que objetivamente redime; o arminiano crê em um Redentor em potencial, que apenas viabiliza a redenção do mundo. O calvinista crê em um Espírito Santo que chama os indivíduos soberana e eficazmente; o arminiano crê em um Espírito Santo que apenas persuade moralmente, mas que pode ser resistido.
     A diferença, portanto, entre esses dois sistemas teológicos não é meramente adjetiva, mas substantiva. Isto é, o problema não está em que ambos creiam que as doutrinas da queda, da eleição, da expiação, da graça e da salvação têm a mesma natureza, diferindo apenas na extensão. A dificuldade não está na questão da queda ser maior ou menor, da eleição ser condicional ou incondicional, da expiação ser limitada ou ilimitada, da graça ser resistível ou irresistível, ou da salvação ser estável. O problema maior não está na extensão, mas na natureza dessas doutrinas. A dificuldade real é que, conforme entendemos, no arminianismo a queda não é queda, a eleição não é eleição, a expiação não é expiação, a graça não é graça, e a salvação não é salvação. Essas doutrinas, conforme enunciadas pelo arminianismo, não correspondem às doutrinas que cremos com esses nomes.
    A Queda, segundo os arminianos, produziu escoriações e ferimentos espirituais sérios no homem, deixou-o ferido ao ponto de precisar ser levado para um hospital. Quem sabe, até se lhe quebraram alguns ossos e alguns de seus órgãos espirituais importantes foram afetados. Não obstante, para os arminianos, a queda não passou de um acidente. Para os calvinistas, entretanto, a queda não foi um mero acidente, foi uma tragédia tão grave que inutilizou espiritualmente o homem. Foi uma precipitação em um abismo tão profundo que resultou em nada menos que na sua morte e de toda a raça humana. O homem espatifou-se espiritualmente, suas entranhas espirituais se despedaçaram, e ele morreu instantaneamente. A diferença entre um ferido e um morto não é apenas questão de ênfase!


    Para os arminianos, a eleição não é um ato livre do Deus que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade soberana; é, na realidade, uma resolução de receber aqueles que, conforme o conselho de suas próprias vontades livres e soberanas, vierem a Deus. "Enquanto o arminiano diz: 'Devo minha eleição a minha fé', o calvinista diz: 'Devo a minha fé à minha eleição". Decididamente, não estamos falando da mesma coisa.


    No que diz respeito à expiação, para os arminianos a obra da redenção realizada por Cristo na cruz tem por objetivo apenas satisfazer a justiça de Deus e remover, potencialmente, o pecado do mundo, o qual é um obstáculo à redenção do homem. Sendo assim, a redenção não redime ninguém, apenas permite que os homens sejam redimidos pela fé em Cristo. Nenhum arminiano pode dizer:" quando Cristo morreu na cruz do Calvário, ele morreu por mim, em meu lugar, pagando os meus pecados individuais ". Ao declararem que Cristo morreu por todos, na verdade, eles estão dizendo que Cristo não morreu por ninguém especificamente. "Enquanto os arminianos dizem: 'Eu não poderia ter obtido a minha salvação sem o Calvário', os calvinistas asseveram: 'Cristo obteve para mim a minha salvação no Calvário". A diferença entre esses conceitos não é apenas de ênfase, mas de conteúdo. Na expiação segundo o arminianismo, Cristo é apenas o instrumento, o meio, mas não o autor da salvação do seu povo.


    Com relação à graça salvadora, para os arminianos ela não passa de uma persuasão moral, de uma influência geral do Espírito Santo, por meio da qual as verdades divinas passam a ser compreendidas e o homem é convencido do pecado. Para os calvinistas, entretanto, a graça de Deus na salvação vai muito além do propósito de iluminar e convencer o homem do pecado. Ela tem poder regenerador. Ela o transforma em nova criatura. Os calvinistas definem a graça de Deus como um favor real, verdadeiro e totalmente imerecido, independente das qualificações do objeto. Ela não é passiva, mas age ativamente no homem, de modo que, atuando em sua mente, sentimento e vontade, vence a sua resistência pecaminosa.


    Quanto à salvação, os arminianos sustentam que o salvo pode perdê-la. Isto é coerente. Visto que, segundo eles, a queda não corrompeu totalmente a vontade do homem, de modo que a expiação, a eleição e a graça de Deus dependem da sua decisão, é natural que eles concebam a salvação como algo instável, de maneira que a perseverança do salvo neste estado também dependa da sua vontade. No entanto, se nem mesmo a vontade de Adão no estado de inocência em que se encontrava foi suficientemente firme para sustentá-lo naquele estado, que dizer da vontade corrompida do homem em estado de pecado? O conceito de salvação que os calvinistas sustentam é ainda mais coerente. Crendo que a vontade do homem corrompeu-se totalmente, e que a eleição, a expiação e o chamado do Espírito Santo são obras da pura graça de Deus, fundamentada unicamente no seu amor soberano, o calvinista assegura que a salvação é eterna, que Deus não muda os seus propósitos, e que glorificará a todos os seus eleitos.


                      A ESSÊNCIA DO CALVINISMO


                                                         continua...


Fonte:calvinismo, as antigas doutrinas da graça. Paulo Anglada

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