O ensino que Deus desde a eternidade, antes mesmo do mundo ser
criado, escolheu um número definido de pessoas para serem salvas vem da
pena do Apóstolo Paulo: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que
nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em
Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para
a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade” (Ef. 1:3-5). Essa declaração é impressionante e merece nossa análise
cuidadosa. Somos informados que Deus o Pai nos abençoou, isto é, cristãos ou
crentes, com toda bênção espiritual. Essas bênçãos são designadas como
espirituais porque são derivadas do Espírito Santo, que aplica a obra perfeita
de redenção às nossas a
lmas. Quando Paulo diz “toda sorte de bênção espiritual... em
Cristo” ele quer dizer que cada aspecto da redenção que Jesus realizou para o
seu povo (justificação, santificação, adoção, glorificação) é nossa (isto é,
dos crentes verdadeiros).
No versículo quatro chegamos à seção da declaração de Paulo que é
controversa. Paulo diz que todas as bênçãos da salvação que os crentes possuem,
tem sua origem no amor eletivo de Deus o Pai. A eleição divina é a fonte ou
origem da salvação de cada cristão. A palavra escolher (grego, exelexato)
significa eleger. Deus nos elegeu em Cristo. A palavra é frequentemente evitada
ou redefinida nas igrejas evangélicas porque se Deus elegeu alguns (isto
é, alguém em Cristo), então por implicação lógica outros não foram eleitos.
Isto é, eles foram abandonados por Deus para perecer em seus pecados. Porque
muitos cristãos professos não pensam que tal visão é democrática ou justa, eles
viram essa passagem de cabeça pra baixo e ensinam que Deus escolhe somente os
homens que primeiro o escolheram. Essa visão será considerada mais adiante.
Observe que a eleição é em Cristo. Os eleitos são escolhidos em Jesus.
Todos escolhidos por Deus serão unidos ao Salvador (o cabeça federal e
representante deles) e assim, receberão tudo merecido para eles pelo Mediador
(regeneração, o dom do Espírito Santo, justificação, santificação definitiva,
perseverança, glorificação). Assim, vemos que o fundamento último da nossa
união federal com Cristo não é nossa fé em Jesus; antes, nossa fé no Salvador
está em última análise fundamentada em nossa união federal com Cristo. Embora
não sejamos justificados realmente até que nos apeguemos a Cristo pela fé no
tempo e espaço, os dons da regeneração (Jo. 3:8; At. 11:18) e da fé (Ef. 2:8)
não são concedidos por Cristo sem primeiro a eleição divina de pecadores
particulares.
Paulo então nos dá o tempo quando a eleição aconteceu. “Nos escolheu
nele antes da fundação do mundo” (v. 4). Antes do tempo começar, antes mesmo do
universo existir, na eternidade Deus escolheu aqueles que desejou salvar em
Cristo. Essa declaração diz algumas coisas muito importantes com respeito ao
plano de salvação de Deus. Vemos que tudo relacionado à salvação dos pecadores
foi desenvolvido em detalhe exaustivo na mente de Deus antes mesmo do mundo
existir. Não existe acaso no universo de Deus. Ele opera todas as coisas de
acordo com o conselho de sua vontade. Nada que acontece pode ou tomará Deus de
surpresa. O que isso tudo significa é que na salvação de pecadores
particulares, os eleitos, não pode existir insucesso. A salvação deles é certa.
Assim, a salvação é do Senhor (Jonas 2:9). Os cristãos não são salvos por algo
que fizeram. Em última análise, eles não foram salvos por fazerem uma escolha;
mas, porque Deus os escolheu. Em outras palavras, de acordo com seu grande amor
e misericórdia ele nos salvou. Que evangelho bendito! Deus alcança e salva
aqueles que não podem se salvar.
Esse ensino é apoiado pelo versículo que diz que Deus “nos predestinou
para ele, para a adoção de filhos [isto é, para ser parte de sua própria
família], por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade”. A palavra predestinou (grego, proorisas) significa
predeterminar ou determinar de antemão. No contexto, a palavra de antemão pode
significar somente antes da fundação do mundo. A palavra predestinou repete a
mesma idéia contida no versículo quatro: “[Ele] nos escolheu... antes da
fundação do mundo”. Deus decidiu, antes da criação começar, exatamente quem
faria parte do seu povo salvo. Portanto, o número dos eleitos foi escrito em
granito antes de qualquer ser humano existir. Argumentar de outra forma é dizer
que Deus não é soberano ou que Paulo, mesmo escrevendo sob inspiração divina,
cometeu um engano. Tais idéias são obviamente anti-cristãs e demoníacas.
A escolha, eleição ou predestinação de Deus daquelas pessoas que seriam
salvas é dito ser “segundo o beneplácito de sua vontade” (v. 5).
Isso significa que a escolha de Deus dos eleitos não teve absolutamente nada a
ver com algo fora dele mesmo. Ela não foi baseada numa fé prevista daqueles que
escolheriam a Cristo, como John Wesley proclamou. Na realidade, ela não pode
ser baseada no que o homem faz por que: (a) o homem está morto em delitos e
pecados (Ef. 2:1), espiritualmente cego (1Co. 2:14), hostil a Deus (Rm. 8:6-8)
e completamente incapaz de escolher o bem espiritual (Rm. 8:6-8; Jo. 15:5; Sl.
14:3). Portanto, Deus deveria tomar a iniciativa em salvar um povo para si
mesmo e isso é exatamente o que ele fez quando escolheu um povo em Cristo.
Por que a eleição tem tudo a ver com o que Deus faz e de forma alguma é
baseada sobre a iniciativa do homem, os teólogos se referem a ela como eleição
incondicional. O fundamento da eleição é a vontade soberana de Deus, não a
vontade ou escolha de homens que estão espiritualmente mortos e incapazes de
crer em Cristo.
O propósito ou objetivo da eleição divina é “para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele” (v. 4). Comentaristas estão divididos sobre se a
palavra santidade no versículo 4 é subjetiva e designa a santificação ou se é
objetiva e se refere à justificação (isto é, a justiça perfeita de Deus
imputada aos crentes). Se alguém crê que ela se refere à santificação, a
palavra “irrepreensíveis” se referiria a uma perfeição sem pecado de uma pessoa
na ressurreição final. Não importa qual interpretação alguém siga, uma coisa é
clara como cristal: Eleição não é abrir a possibilidade de salvação, mas
é garantir seu cumprimento de fato. Eleição não torna a salvação possível, nem
se encarrega somente de parte do caminho do homem para o céu; antes, ela conduz
os pecadores durante todo o caminho para o paraíso, a fim de contemplarem a
face de Deus. “A eleição não traz o pecador meramente à conversão; ela o leva à
perfeição. Seu propósito é torná-lo santo – isto é, limpo de todo pecado e
separado inteiramente para Deus e o seu serviço – e irrepreensível – isto é,
sem qualquer mancha (Fp. 2:15), como um sacrifício perfeito”. A eleição é uma
doutrina que glorifica a Deus, que deveria ser preciosa para todo cristão que
crê na Bíblia.
Brian Schwertley
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário